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O jornalismo, do colapso à fraude


Publicado: 16/08/2016

Laurindo Lalo Leal Filho - Artigo publicado na Revista do Brasil, agosto de 2016

Assistimos ao colapso do jornalismo comercial brasileiro.
 
Nunca antes na história deste pais o nível ético de jornais, rádios e TVs esteve tão baixo.
 
Na ânsia de derrubar a qualquer custo um governo eleito democraticamente as empresas de comunicação mandaram às favas princípios e valores jornalísticos consagrados internacionalmente.
 
Causaram espanto em quem viu esse processo com olhar estrangeiro.

O jornalista estadounidense Glenn Greenwald, radicado no Brasil, arregalou os olhos.
 
Primeiro surpreendeu-se com a unanimidade da mídia tradicional brasileira na defesa dos mesmos interesses, sem espaço para divergências.
 
É dele a melhor definição desse processo ao comparar a situação real do Brasil com um cenário hipotético dos Estados Unidos, no qual todos os meios de comunicação adotariam a linha conservadora da Fox News.
 
Para quem vive naquele país ficou fácil de entender.
 
Por aqui é mais difícil.
 
A maioria da população se informa pelo rádio e pela TV que, por sua vez, ecoam o que dizem jornais e revistas, num círculo fechado à controvérsia.
 
Do susto inicial ao constatar essas evidências, o jornalista foi além e desvendou uma das maiores fraudes já ocorridas na imprensa brasileira veiculada pelo jornal Folha de S.Paulo, espetacularizada pelo programa Fantástico, da Rede Globo e disseminada por diferentes meios de comunicação.
 
Greenwald, depois com o importante complemento do jornalista brasileiro Fernando Brito, editor do site Tijolaço, revelou a manobra operada por aquele jornal com a colaboração do seu instituto de pesquisa, o Datafolha.
 
Num domingo de julho, a Folha disse que 50% dos brasileiros desejavam a permanência de Temer na presidência até 2018 e que apenas 3% do eleitorado era favorável a novas eleições.
 
Diante desses números surpreendentemente positivos para um governo tão impopular como o de Temer, outro jornalista estrangeiro, Brad Brooks, correspondente chefe da agência de notíciasReuters, no Brasil, também se assustou.
 
Foi o primeiro a perceber a discrepância entre aqueles números e a informação do próprio Datafolha, dada em comunicado à imprensa, de que três em cada cinco brasileiros preferem novas eleições.
 
Só que essa informação sumiu até da página do instituto de pesquisa.
 
Foi o brasileiro Fernando Brito quem descobriu nos escaninhos da internet a versão original dos dados coletados.
 
Segundo Greenwald e Eric Grau, do site The Intercept, “o que foi encontrado na versão original do documento – aparentemente retirada do ar de forma discreta pelo Datafolha – é de tirar o fôlego.
 
Ficou comprovado que a matéria da Folha era uma fraude jornalística completa”.
 
Dizem os jornalistas, no site Intercept: “a pergunta 14, encontrada na versão original, dizia: ‘Uma situação em que poderia haver novas eleições presidenciais no Brasil seria em caso de renúncia de Dilma Rousseff e Michel Temer a seus cargos. Você é a favor ou contra Michel Temer e Dilma Rousseff renunciarem para a convocação de novas eleições para a Presidência da República ainda neste ano? Os dados não publicados pelo Datafolha mostram que 62% dos brasileiros são favoráveis à renúncia de Dilma e Temer, e à realização de novas eleições, enquanto 30% são contrários a essa solução. Isso significa que, ao contrário da afirmação da Folha de que apenas 3% querem novas eleições e 50% dos brasileiros querem a permanência de Temer como presidente até 2018 – ao menos 62% dos brasileiros, uma ampla maioria, querem a renúncia imediata de Temer”.
 
Mas a Folha não ficou por ai.
 
Escondeu também uma pergunta cujas respostas eram mais favoráveis à Dilma.
 
O Datafolha perguntou: “Na sua opinião, o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff está seguindo a regras democráticas e a Constituição ou está desrespeitando as regras democráticas e a Constituição? Apenas 49% disseram que o impeachment cumpre as regras democráticas e respeita a Constituição, enquanto 37% disseram que não. Como a Folha pode omitir este dado tão surpreendente e importante quando, supostamente, quer descrever a visão dos eleitores sobre o impeachment?” perguntam os jornalistas do Intercept.
 
Para completar o jornal embalou esses e outros números numa manchete de primeira página que dizia “Cresce o otimismo com a economia, diz Datafolha”.
 
Trabalho de propaganda para por no chinelo as ideias e frases dos mais renomados e experientes marqueteiros políticos do pais.
 
Pesquisas realizadas por institutos sérios, algumas semanas depois, confirmaram a fraude.
 
Segundo levantamento do Ipsos, publicado pelo jornal Valor Econômico, 20% da população quer a permanência de Dilma e apenas 16% do interino que é rejeitado por 68% da população (a rejeição à Dilma caiu de 61% em março para 48% em julho).
 
A preferência por novas eleições chega a 52% (bem distante dos 3% da Folha).
 
Mas o estrago maior para a democracia foi realizado pela TV, tendo o Fantástico à frente.
 
Foram longos minutos dissecando didaticamente para o telespectador os números da pesquisa numa ação de duplo efeito: diminuir a rejeição popular ao governo interino e, por consequência, dar respaldo aos votos dos senadores golpistas no processo de impeachment.
 
A fraude no jornalismo acompanha a fraude na política.



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