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Ressaca eleitoral e a grande falácia da crise moral da esquerda


Publicado: 05/10/2016

Por João Feres Júnior

Do GGN

Ligo a televisão na Globo News, canal de TV a Cabo de comprovada militância antipetista, e os comentaristas de plantão – juro que não sei o nome daqueles fantoches de ocasião – estão a dizer que o principal resultado da eleição foi a derrota do PT e que o partido vai ter que rever seus atos e sua história. Uma amiga PSOLista me recomenda um artigo de Aldo Fornazieri, no qual o autor, refletindo também sobre a derrota eleitoral, diz que o “poder fez muito mal ao PT” e que o PT “alimentou a mesma crença que as elites históricas conservadoras alimentaram desde os tempos coloniais no Brasil: a de que a sociedade pode ser moldada e transformada desde o alto, desde o Estado”. Logo depois, um quadro da DS, tendência do PT, e amigo de Facebook, posta a seguinte pérola: não se deve culpar o PIG pela derrota, pois “o discurso e os valores dos inimigos eternos da esquerda e de um país mais igualitário só se fortalecem na opinião pública à medida que encontram aderência à realidade”. Tal filosofada ele usou para introduzir um artigo de Olívio Dutra, no qual o ex-governador gaúcho fala coisas do mesmo quilate, que “o PT errou seriamente” e que os petistas estão sendo “julgados e presos” pelos erros cometidos, entre outras coisas.

Longe de mim dizer que o PT não cometeu erros em suas administrações do Governo Federal e de que esses erros não são em boa medida responsáveis por sua derrota eleitoral. Discordo, contudo, substantivamente do diagnóstico destes críticos: equivocam-se na identificação dos erros cruciais.

Quero primeiro partir de minha perplexidade perante o fato de ter sabujos da GloboNews concordando com PSOListas e PTistas acerca do diagnóstico da derrota. A expressão unanimidade burra não tem força suficiente para descrever tamanho absurdo. Vou então perder um pouco de meu tempo explicando porque os argumentos que conduzem a tais conclusões são ou mal-intencionados ou estapafúrdios, burrices em estado cristalino.

Parece-me coerente que os ideólogos da Globo joguem a culpa da derrota eleitoral exclusivamente em cima do PT. Deprimente é ver que tem petistas e outros esquerdistas que compram o argumento da Globo. Vejamos, o Brasil acaba de sofrer um golpe parlamentar-jurídico-midiático e a responsabilidade pela derrota é do partido político que tem sido de longe o objeto mais alvejado pela contrarrevolução midiática desde o começo da Nova República – vejam os gráficos do Manchetômetro (http://www.manchetometro.com.br/) para terem uma ideia do índice de viés contra o PT antes mesmo da Lava Jato eclodir.

A contrarrevolução midiática vem massacrando o PT e as instituições políticas que derivam sua legitimidade do voto, executivo e legislativo, há muito tempo, e os efeitos se mostram não somente na derrota do PT, mas também no elevado número de abstenções, brancos e nulos, isto é, na deslegitimação da democracia como um todo. Não nos esqueçamos que os partidos da direita pouco progrediram eleitoralmente. Em suma, a resultando foi uma desvalorização do sistema como um todo.

Aí vem a PSOLista com o artigo do Fornazieri dizendo que o principal erro do PT foi a corrupção. De passagem o autor dá um desconto para o “PIG” e depois me sai com essa de que uma grande falha do PT foi ter alimentado a crença da transformação social por meio do Estado – vício histórico das elites conservadoras no Brasil. Ora, na história do Brasil todos os movimentos de inclusão social se fizeram via Estado. A verdade é exatamente o contrário do que diz Fornazieri, são as elites conservadoras que querem o Estado pequeno, pois assim exercem mais livremente seu poder privado.

Mas a crítica mais comum feita por PSOListas ao PT, particularmente aqui no Rio de Janeiro, não está no texto de Fornazieri, mas na boca de inúmeros eleitores do partido, quase todos brancos habitantes da ensolarada Zona Sul carioca. Acusam como principal delito moral do PT a aliança com o PMDB. O argumento aqui é simples: trata-se de corrupção moral um partido que se quer de esquerda aliar-se a um outro que é fisiológico e corrupto por vocação.

Claro que o argumento em resposta a essa crítica é o de que o PT celebrou tal aliança no esforço de compor maiorias parlamentares que garantissem a governabilidade. Mas quero acrescentar algo mais. O PMDB é de fato o maior partido do Brasil. Seu perfil ideológico é difuso e o comportamento de seus membros em média bastante fisiológico. Pois bem, enquanto o PT era seu aliado, o PMDB apoiou um sem número de políticas sociais, que obtiveram grande sucesso na inclusão social de um sem número de brasileiros. Contudo, uma vez a aliança rompida, o PMDB migrou para a direita, e hoje apoia o programa neoliberal e recessivo de Temer. A crítica dos militantes do PSOL só seria válida se pudéssemos fazer as pessoas pararem de eleger políticos do PMDB (e de outros partidos que não o deles). Felizmente, as exceções do nosso regime ainda não chegaram a esse ponto. Enquanto políticos do PMDB e de outros partidos similares continuarem a ser legitimamente eleitos, eles têm que ser levados a sério. Não se constrói uma democracia desprezando o voto popular.

O mais importante para o propósito desta discussão aqui é notar que o PMDB e seus políticos estão envolvidos até o pescoço em denúncias de corrupção da Lava Jato mas o partido não sofreu consequências eleitorais por causa disso. Ora, mas se a corrupção foi a causa da derrocada petista, porque não seria também para o PMDB?

Não é que o amigo da DS ainda me sai com essa de que as pessoas foram convencidas a não votar no PT por “aderência à realidade”! Que realidade? Desde quando as pessoas ficam sabendo de política por meio de uma experiência de primeira mão com a “realidade”? Gostaria de saber como ele, economista, explicaria a queda vertiginosa da popularidade de Dilma logo após as manifestações de junho de 2013, e cenário que os indicadores econômicos (renda média, expectativa de emprego) estavam em alta, a não ser pelo sucesso que a grande mídia teve em creditar a “insatisfação popular” na conta do Governo Dilma. Desde quando as maquinações de Moro, Dallagnol e as inúmeras manchetes e artigos de jornal acusando o PT, Lula e quejandos de envolvimento em inúmeras acusações de corrupção ainda por serem provadas constituem “aderência à realidade”?  

Do ponto de vista eleitoral, ou seja, no que toca o diagnóstico da derrota, o principal erro do PT não foi a corrupção na Petrobrás em si, mas sua exploração exaustiva e enviesada por parte da grande mídia com intuito de produzir efeito eleitoral. Do ponto de vista eleitoral, o pior erro do PT foi não ter feito vintém para democratizar a comunicação em nosso país, deixando a população à mercê de poucas empresas com extensa ficha corrida de desserviços prestados à república. A tirada “a mídia não ganha mais eleição”, que ecoou por tantos anos nos QGs de campanha do Partido dos Trabalhadores, é na verdade a maior burrice já cometida na história desse país. A mídia ganhou os corações e mentes dos cidadãos brasileiros contra o PT, contra a política, contra a democracia, contra o próprio Brasil.

Se a esquerda ficar se consumindo em crises morais acerca da corrupção continuará a ser massacrada. A única saída é a ação, e esse ação tem que vir na forma da criação de meios de comunicação robustos que possam competir com a grande mídia. Não há outra alternativa.



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