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SINDICATO DOS SERVIDORES PÚBLICOS FEDERAIS NO ESTADO DE PERNAMBUCO
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Publicado: 31/01/2017
Por Mailson Ramos
Millôr Fernandes disse certa vez que se a imprensa brasileira fosse um pouco melhor poderia ter uma influência maravilhosa sobre o país. A verdade, porém, é que a imprensa descaracterizou a sua influência sobre a sociedade e a utiliza como moeda de troca para a obtenção de favores, verbas, publicidade. Este é um comportamento que evidencia a sobrevivência da mídia em ambiente hostil, onde o futuro do país não importa, mas sim quantos anos mais ela sobreviverá. Por isso não há profundidade nas discussões que a mídia suscita: ela fala a públicos e setores próprios, avessa à coletividade e muitas vezes descolada da realidade. Não é exagero dizer que o Brasil tem uma mídia que não conhece o Brasil.
A mídia brasileira é partidária. E se comporta como tal diante das vicissitudes e alternâncias do poder; para os veículos de imprensa no Brasil, independente das perspectivas ideológicas ou programáticas de um governo, o que importa no fim é manter a relação de mutualismo, caracterizada pela transformação do jornalismo em propaganda. E isto acontece a céu aberto, sob a premissa de que é preciso discutir os projetos nacionais. É hipocrisia da grossa. A mídia jamais se preocupou em discutir projetos de Brasil, pois o que lhe apetece é a fragorosa verba de publicidade federal – decrescente nos últimos anos –, mas agora reestabelecida em altos valores pelo governo de Michel Temer.
Um exemplo deste mutualismo é a ação da mídia na campanha para a aprovação da reforma da Previdência. O jornalismo aderiu à campanha em tom de propaganda aberta. A matéria exibida recentemente no programa ‘Mais Você’, da TV Globo, explorou por alguns minutos “a necessidade de se aprovar a reforma de uma Previdência que tem fundos escassos”. Inserções gráficas são bancadas pelo Governo Federal nos portais de notícias, em páginas inteiras dos jornalões, nas pequenas e esfomeadas mídias que aderiram ao impeachment de Dilma Rousseff como a salvação da lavoura.
A reforma do Ensino Médio também ocupou lugar de destaque nas campanhas publicitárias da grande mídia. É importante observar que poucas vezes no Brasil um governo utilizou tanto o poderio da mídia nativa para impor reformas. É um modelo de dependência de forças das esferas de poder público e privado que nos faz pensar o quanto somos ainda atrelados à influência midiática especialmente da televisão. Não por menos o novo governo aumentou impostos sobre empresas de transmissão de streaming de vídeo e áudio como Netflix e Spotify. E isso não acontece por acaso.
Existe hoje um movimento de salvação da mídia tradicional encampado pelo governo de Michel Temer. O entusiasmo da nova-velha administração fez brotar a necessidade das reformas, uma nova pactuação entre velhas forças políticas que vivem sobressaltadas. A mídia afugenta os abutres, mas sabe como ninguém chamá-los de volta à carniça. E assim mantém viva a necessidade dos governos de se ajoelharem ao seu poder. Não é estranho que todos os presidentes até aqui tenham subjugado a lei de democratização dos meios de comunicação. Preferem brigar até mesmo com a Igreja, com o papa, mas não com os poderosos monopólios de comunicação que comandam os destinos deste país.
O bom jornalismo está vivo, mas restrito a determinadas circunstancias e espaços. Não está infiltrado nas grandes redações e possivelmente não estabelece contatos com a velha política. O bom e independente jornalismo está a anos luz do que representa a mídia brasileira. Nenhuma peça de marketing ou propaganda pode conceder a uma emissora de TV ou um jornal a sua capacidade de ser fiel aos fatos. Nesta lista seriam excluídos grandes grupos de comunicação que se tornaram conhecidos por mascarar os fatos. Como a Globo, que há trinta e três anos mostrava o movimento das Diretas Já como se fosse o aniversário de São Paulo.