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SINDICATO DOS SERVIDORES PÚBLICOS FEDERAIS NO ESTADO DE PERNAMBUCO
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Publicado: 17/09/2025
Do GGN
Durante o regime nazista, os judeus foram alvo central de perseguição. Décadas depois, nos Estados Unidos, o macartismo promoveu uma intensa repressão a artistas, cientistas e intelectuais, muitos deles judeus, acusados de envolvimento com o comunismo e com uma suposta “conspiração judaico-bolchevique”.
Entre os nomes afetados estavam Herbert Biberman, Albert Maltz, Lillian Hellman, Julius Epstein, Zero Mostel, Daniel Dammett, Howard Fast, Leonard Bernstein, J. Robert Oppenheimer, Edward Condon, Julius e Ethel Rosenberg.
Recentemente, a Universidade da Califórnia em Berkeley encaminhou ao Departamento de Educação dos EUA uma lista com 160 nomes de alunos, professores e funcionários, em resposta a uma solicitação do Escritório de Direitos Civis sobre denúncias de antissemitismo. Segundo comunicado oficial, o envio dos documentos atende a obrigações legais de cooperação com a agência federal.
No Brasil, a Confederação Israelita do Brasil (CONIB), em parceria com a Federação Israelita de São Paulo e seu Departamento de Segurança Comunitário, divulgou em abril de 2025 um relatório registrando 1.788 casos de suposto antissemitismo e mais de 84 mil menções na internet classificadas como antissemitas. A entidade atribui parte do crescimento desses casos a ações de grupos de esquerda. Qualquer crítica ao genocídio de Gaza entra nessa classificação.
Entre os episódios recentes, destacam-se ações judiciais movidas pela CONIB contra o jornalista Breno Altmann, o economista Paulo Nogueira Batista Jr. e a diplomata Cláudia Assef. Em todos os casos, decisões judiciais ou do Ministério Público entenderam que as declarações estavam dentro dos limites da liberdade de expressão ou se tratavam de críticas políticas, não configurando crime.
Também fui alvo de críticas por não ter me manifestado sobre declarações de Paulo Nogueira Batista Jr., e mais recentemente, por um artigo em que menciono, como uma das hipóteses para o voto do ministro Luiz Fux no STF, suas relações com setores da direita judaica. O texto buscava discutir a atuação política de organizações representativas da comunidade judaica, como a CONIB, e seu alinhamento com grupos políticos conservadores.
Reconheço que o tema exige cuidado e que, se as ressalvas feitas no artigo não foram suficientes para distinguir entre críticas políticas e questões identitárias, estou aberto à revisão. Recebi manifestações de amigos judeus progressistas, cujas opiniões respeito, e que consideraram excessiva a ênfase na origem judaica do ministro.
Pouco antes desse episódio, entrevistei o físico Paulo Alberto Nussenzveig, pró-reitor de pesquisa da USP, filho de Herch Moysés, físico fundamental, e sobrinho de Victor e Ruth Nussenzweig, cientistas exilados durante a ditadura que contribuíram para o desenvolvimento da vacina contra a malária. A entrevista foi uma homenagem à contribuição de cientistas judeus à ciência brasileira, como Mário Schenberg, César Lattes, Jayme Tiomno e Yvonne Primerano Mascarenhas.
Apesar disso, fui rotulado como antissemita em redes sociais. Não escrevo este texto como queixa pessoal, mas como alerta à comunidade judaica brasileira — especialmente aos setores progressistas — sobre os riscos de uma atuação institucional que, ao tentar combater o antissemitismo, pode acabar gerando reações adversas e contribuindo para o aumento da intolerância.
A comunicação adotada por algumas dessas entidades tem sido pouco eficaz. Em vez de promover o diálogo, muitas vezes reforça divisões. A crítica à cobertura internacional do conflito Israel-Palestina, por exemplo, ignora a desproporção de vítimas e a necessidade de empatia com civis palestinos. A ausência de manifestações públicas equilibradas por parte de lideranças judaicas brasileiras contribui para a polarização e para o fortalecimento de discursos conspiratórios.
Casos como os dos professores Reginaldo Nasser e Bruno Huberman, denunciados à Fundação São Paulo por suposto antissemitismo, geraram reações contrárias, como o manifesto de apoio assinado por 121 docentes da PUC-SP. A pesquisadora Arlene Clemesha, da USP, também foi alvo de ataques após abordar, de forma acadêmica, os conceitos de antissemitismo e antissionismo.
A pressão interna parece ter silenciado até mesmo vozes progressistas diante de ações do governo Netanyahu. Esse silêncio pode ser interpretado como conivência e acaba por alimentar teorias conspiratórias, além de comprometer o capital moral acumulado pela comunidade judaica ao longo da história.
Em entrevista ao Jornal GGN, o diplomata Marcos Azambuja alertou que esse capital está sendo perdido. É fundamental que lideranças da comunidade judaica brasileira promovam uma reflexão interna e contribuam para restaurar o equilíbrio e o bom senso no debate público.