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SINDICATO DOS SERVIDORES PÚBLICOS FEDERAIS NO ESTADO DE PERNAMBUCO
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Publicado: 06/06/2025
Do GGN
O bilionário Elon Musk anunciou, em 28 de maio, a saída do governo de Donald Trump, em que exerceu o cargo de conselheiro especial e líder do Departamento de Eficiência Governamental (Doge). Desde então, o então apoiador e financiador de Trump deu início a uma série de críticas ao presidente dos Estados Unidos, entre elas a que tratou como uma "abominação repugnante", a proposta tributária de Trump.
Para comentar as rusgas, o programa TVGGN 20H contou com a participação do sociólogo Sergio Amadeu, que observou que as big techs deixaram de ser apenas gigantes empresariais da tecnologia para se tornarem estruturas geopolíticas, com influência direta nas estruturas de poder dos Estados Unidos e impactos globais em soberania, política e democracia.
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E o coroamento dessa influência dos donos de big techs ocorreu na posse do presidente norte-americano em janeiro, que escolheu tais pessoas para compor a linha de frente do seu mandato.
“O Trump, por sua vez, acreditava que o Elon Musk era um gênio e que conseguiria domar esses grandes grupos que têm disputas dentro dos Estados Unidos e no mundo inteiro, por partes de mercados, por segmentos e tal. Mas eles atuam conjuntamente em várias áreas, em muitas áreas. Então, eles estão decididos a criar um clima internacional favorável ao avanço do trumpismo”, afirma Amadeu.
Segundo o entrevistado, empresas como Google (Alphabet), Meta, Microsoft, Amazon e Oracle estão cada vez mais integradas ao chamado “Estado Profundo” norte-americano — conceito que remete a estruturas permanentes de poder que operam para além dos governos eleitos. O envolvimento das big techs em decisões estratégicas do Estado americano ficou evidente até mesmo em cerimônias oficiais, como a posse presidencial de Donald Trump.
O sociólogo argumenta que o trumpismo não é irracional, mas sim parte de uma estratégia bem articulada de reinvenção do Estado, baseada em ideais defendidos por pensadores como Curtis Yarvin, conhecido por seu ativismo tecnológico e vínculos com a extrema-direita americana.
“Então, a ideia de explodir por dentro. Eles estão bem articulados nisso e me assusta quem acredita nessas plataformas que, no caso das redes sociais online, são todas ligadas a essas corporações. As big techs ali, principalmente, dois grandes grupos, Alphabet e Meta, eles estão intrinsecamente ligados à política trumpista.”
Nesse contexto, as Big Techs atuam não só em rede, mas de forma coordenada, com interesses comuns na manutenção da hegemonia tecnológica e da influência política dos EUA. Um dos exemplos citados é o Projeto Stargate, anunciado ainda sob Trump, com investimentos milionários para garantir a liderança americana em inteligência artificial (IA), tendo empresas como Oracle e OpenAI (parceira da Microsoft) como protagonistas.
Brasil na mira
Amadeu manifesta preocupação com os rumos do Brasil diante desse cenário. A entrada massiva de data centers de empresas americanas no país — anunciada pelo Ministério da Fazenda como uma iniciativa positiva — é vista por ele como uma extensão da soberania dos EUA em solo brasileiro.
Ele destaca que, mesmo que fisicamente localizados no Brasil, data centers de empresas norte-americanas continuam sujeitos à legislação dos EUA, como o Cloud Act, que permite que autoridades americanas acessem dados armazenados por empresas sediadas nos EUA, independentemente da localização física desses dados.
“Essas empresas não só com redes sociais online, mas também agora com esses clientes de IA generativa, vão interferir na formação da opinião pública, estão interferindo e ninguém, vamos dizer assim, pode achar, não sei como, a grande ingenuidade que vai conseguir se dar bem dentro desse cenário da plataformização. Então, eu acho muito perigoso o que está acontecendo e os ataques ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, é uma prova que eles vão fazer em breve mais uma extensão da soberania norte-americana”, continua o sociólogo.
Militarização
Outro ponto central da entrevista é a militarização crescente das big techs. Amazon, Microsoft, Google e Oracle possuem contratos diretos com o Pentágono e participam de projetos de “ponta tática”, como o desenvolvimento de satélites, conectividade para zonas de combate e articulação de drones.
A Palantir Technologies, empresa criada com fundos da CIA e liderada por Peter Thiel — ex-sócio de Elon Musk e figura central da extrema-direita americana — também é citada como exemplo de como empresas privadas operam com lógica militar e ambições geopolíticas.
“A Palantir venceu uma licitação para desenvolver a plataforma de dados do sistema de saúde do Reino Unido, mesmo sendo contrária ao serviço público de saúde”, ressalta Amadeu.
Ignorância estratégica
Ao discutir a falta de estratégias digitais no Brasil, o entrevistado aponta uma resistência histórica da classe política, especialmente da esquerda, em compreender a centralidade da tecnologia para o desenvolvimento nacional. “Há uma ignorância ativa. Eles fazem questão de não entender de tecnologia, e isso é grave.”
Segundo o sociólogo, o Brasil perdeu oportunidades de desenvolver infraestrutura digital própria e de investir em software livre — movimento que foi abandonado apesar de seu potencial de soberania tecnológica.
Hoje, até mesmo projetos universitários de IA acabam sendo subcontratados para nuvens da Amazon ou Microsoft, por falta de infraestrutura nacional.
Inspirando-se na China, Sergio Amadeu defende que dados devem ser tratados como um dos principais fatores de produção — ao lado de capital, trabalho e terra.
Ele argumenta que o Estado brasileiro deveria liderar iniciativas para criar grandes centros públicos de dados, garantindo acesso e infraestrutura para universidades e centros de pesquisa. “Um projeto nacional de IA deveria ter começado no início do governo. Sem isso, vamos continuar pagando para as big techs nos ensinarem como pensar.”