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SINDICATO DOS SERVIDORES PÚBLICOS FEDERAIS NO ESTADO DE PERNAMBUCO
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Publicado: 22/01/2019
A crise desencadeada pelas denúncias contra o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), envolvendo o militar, seu ex-motorista e assessor Fabricio de Queiroz, não deve diminuir o "apoio consistente" de 255 deputados ao governo governo na Câmara dos Deputados. A agenda econômica, cujo principal projeto é a reforma da Previdência, leva em conta esse número.
A avaliação é do analista Antônio Augusto de Queiroz, o Toninho, diretor licenciado do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Assim, o governo precisaria de mais 53 parlamentares para mudar o sistema previdenciário (por emenda constitucional), o que exige 308 votos na Câmara.
Para Toninho, em relação a questões culturais, de comportamento, família e valores, esse quadro de apoio pode se alterar (para baixo) em função dos episódios recentes. Mas não em relação à pauta neoliberal. “Pelo comprometimento desses parlamentares com a agenda econômica, dificilmente eles votariam diferente das pautas do governo.” O grupo dos 255 deputados é formado por PSL, PP, PR, DEM, PSD, PTB, PRB, Pode, PSC, PHS, PRB e DC – legendas que já vinham dando apoio ao governo Temer.
Na opinião do analista, o governo está estruturado em dois núcleos mais extremados. O primeiro defende a pauta de costumes, muito conservadora, com a oposição da imprensa. Esse núcleo procura atrair os progressistas e os movimentos sociais para uma “guerra ideológica”. O outro grupo, representado pelo ministro Paulo Gudes (Economia), cuida de encaminhar os temas que realmente interessam no Congresso.
“A lógica é que a imprensa está fazendo exatamente esse jogo: defende a agenda econômica e combate a cultural”, diz o analista. Se praticamente todos os veículos da grande imprensa estão bombardeando Flávio Bolsonaro, por outro lado, na opinião do analista do Diap, a mídia “assina embaixo a pauta econômica”, que vai contra os interesses da população com desnacionalização e desmonte do Estado. “Quanto a isso, mídia e governo estão juntos.”
Já a pauta irrealista que engloba a ideologia de gênero, os comunistas, a escola sem partido, o meio ambiente e outros temas verbalizados pelos ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Damares Alves (ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos) são parte de uma “manobra diversionista”, na opinião de Queiroz.
A rigor, para ele – e de acordo com análise do professor da Fundação Getúlio Vargas e presidente do Instituto Luís Gama, Silvio Almeida –, o governo seria estruturado em três grupos: além dos já citados ideológico-diversionista e econômico, o “policial-jurídico-militar”, representado por Sergio Moro (Justiça) e Hamilton Mourão, o vice-presidente.
Segundo a avaliação do analista do Diap, os escândalos envolvendo Flávio Bolsonaro podem, sim, ter consequências mais graves. “Porque uma parte dos bolsonaristas mais radicais e ligados à defesa de valores ficou com vergonha ou com culpa, apesar de haver os que radicalizam mais ainda a favor do governo, acusando que isso é coisa de inimigos.”
A questão é que a opinião pública tem reflexo sobre os políticos “de modo imediato”. “Os políticos não podem abandonar o barco agora, mas na medida em que a opinião pública for abandonando o governo, para alguns parlamentares e políticos vai começar a cair a ficha, apesar de que alguns devem se manter fiéis até o final.”
Davos
Antes mesmo de chegar a Davos, para a reunião do Fórum Econômico Mundial, Jair Bolsonaro já foi objeto de protestos de sindicatos suíços. Em um cartaz contra ele e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu (acusado de corrupção em seu país), no fim de semana, podia-se ler: not welcome("não são bem-vindos"), entre outros recados.
Após chegar à Suíça, o presidente da República postou vídeo no Twitter em que se dirige aos investidores. “Nós queremos mostrar que o Brasil tomou medidas para que o mundo restabeleça confiança, que os negócios voltem a florescer entre o Brasil e o mundo, sem viés ideológico, que nós podemos ser um país bom para investimentos, e em especial para o agronegócio, nossas commodities mais caras”, declarou.
No fim de semana, Mourão, presidente em exercício, questionou o ministro das Relações Exteriores à revista Época. “Ele não falou o que pretende fazer”, disse. “Vai todo mundo virar israelense desde criancinha? Vai todo mundo virar fã dos americanos de qualquer jeito? A diplomacia são métodos e objetivos, não um fim”, acrescentou, em referência à anunciada mudança da embaixada do Brasil em Israel, de Tel Aviv para Jerusalém.
Para Queiroz, do Diap, “faz parte do projeto" colocar no governo figuras como Ernesto Araújo, para chamar a atenção. "As pessoas se ocupam do enfrentamento com ele, e enquanto isso as coisas que interessam (na economia) estão andando”.