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Como mobilizar o país em torno das terras raras


A ausência de política industrial fez industriais abandonarem o nacionalismo produtivo para abraçar a lógica neoliberal de mercado

Publicado: 16/10/2025

Do GGN

O trabalho citado por Pedro Cafardo, com base na análise de Haroldo da Silva, no Valor Econômico, revela um fenômeno complexo: a desindustrialização brasileira ocorreu paralelamente à atuação intensa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) no Congresso Nacional. Isso parece contraditório, mas se explica por uma mudança profunda no perfil e nas prioridades dos industriais brasileiros.

A razão central do paradoxo é que os industriais brasileiros, diante da lógica de mercado e da ausência de políticas industriais consistentes, priorizaram a sobrevivência e competitividade de suas empresas, mesmo que isso significasse abandonar o nacionalismo produtivo.

Por que os industriais abraçaram o neoliberalismo?

 
  • Sobrevivência empresarial: Desde os anos 1990, com a abertura comercial promovida por Fernando Collor, os empresários passaram a competir com produtos estrangeiros mais baratos e tecnologicamente avançados. A lógica do mercado os empurrou para importar insumos e máquinas, muitas vezes abandonando o desenvolvimento local.
  • Ausência de política industrial ativa: O Estado brasileiro, por décadas, deixou de induzir setores estratégicos. Sem incentivos, os industriais buscaram soluções imediatas no mercado global, tornando-se dependentes de cadeias produtivas externas.
  • Mudança no perfil do empresariado: Os industriais do passado, como os que participaram do Plano de Metas de JK, tinham forte vínculo com o desenvolvimento nacional. Hoje, muitos empresários operam com lógica financeira globalizada, menos comprometida com o projeto nacional.

O caso da Abimaq e a “maquiagem” industrial

A reação da Abimaq à desvalorização do dólar mostra como parte da indústria brasileira se transformou em maquiadora: empresas que apenas montam produtos com componentes importados, sem agregar valor tecnológico nacional.

Em vez de aproveitar o câmbio favorável para exportar, essas empresas sofreram com o aumento do custo das importações, evidenciando a fragilidade da base produtiva nacional.

Caminhos para uma nova política industrial

  • Identificação de oportunidades reais de negócio: Políticas industriais devem partir da lógica empresarial, mapeando setores com potencial competitivo e empresas dispostas a investir.
  • Formação de grupos de trabalho com o setor produtivo: Como no Plano de Metas de JK, é essencial envolver empresários desde o início, criando incentivos claros e metas compartilhadas.
  • Exemplo promissor: Plano Nacional de Terras Raras (PNTR): Se bem desenhado, pode mobilizar desde grandes grupos até microempresas, articulando capital nacional e estrangeiro em torno de um projeto estratégico.

No Plano de Metas, o grupo de trabalho da indústria automobilística definiu as seguintes regras de entrada para as montadoras estrangeiras:

  1. Deveriam ter capital nacional na montadora. Com isso, JK conseguiu a adesão dos grandes grupos financeiros nacionais, como Monteiro Aranha.
  2. Autopeças nacional. Com isso atraiu capitais de vários setores. Abraham Kasinsky, imigrante judeu da Lituânia, montou a maior fabricante de amortecedores da América Latina. José Mindlin, empresário judeu-brasileiro, montou a Metal Leve, empresa de alta engenharia, pioneira em fundição de precisão. Werner Kämpf – Varga S.A. (Freios Varga) tornou-se o maior fabricante brasileiro de sistemas de freio.

 Conclusão

O setor permite uma mobilização muito maior do que a do Plano de Metas, tal a quantidade de setores envolvidos e de empresas de diversos tamanhos. Há espaço para os grandes grupos nacionais, para o universo das PMEs, para o capital estrangeiro e para o mercado financeiro.

Basta planejar e executar.

Eixo de Desenvolvimento Produto Principal (Exemplo de Aplicação) Terras Raras Críticas Empresa-Âncora (Referência Estratégica)
1. Eletromobilidade e Transição Energética Ímãs de alto desempenho (Motores/Geradores Eólicos) Nd, Pr, Dy, Tb WEG (Motores e Geradores) / BYD (Mobilidade)
2. Eletroeletrônicos e Equipamentos de Precisão Sensores Ópticos e Eletrônicos de Alta Precisão (Aviónica) Nd, Pr, Sm, Eu, Y Embraer (Aviónica) / Positivo (Eletrônicos)
3. Indústria Química, Ambiental e de Processos Catalisadores de refino e Polidores Ópticos Ce, La, Y Petrobras (Refino) / Braskem (Química)
4. Saúde e Biotecnologia Agentes de Contraste e Radiofármacos Gd, Y, Sm, Lu Fiocruz / CNEN (Tecnologia Nuclear e Saúde)
5. Defesa e Aeroespacial Sensores e Ímãs para Radares e Sistemas de Guiagem Sm, Nd, Dy, Y, Gd Embraer Defesa / Avibras (Sistemas de Defesa)
6. Reciclagem e Economia Circular Ímãs e Óxidos de Terras Raras Recuperados Nd, Pr, Dy, Tb Gerdau (Metálicos/Reciclagem) / WEG (Reuso de Componentes)
7. Indústria Cultural e de Luxo Pigmentos, Fósforos LED e Vidros Especiais (Design High-Tech) Eu, Tb, Y, Ce, La Startups Tecnológicas de Design (Inovação e Valor Agregado)

Para PMEs

Eixo de Desenvolvimento Oportunidade Principal para PMEs (Onde Entram) Instrumento Chave de Fomento Cluster Sugerido
?? 1. Eletromobilidade & Energia Eólica Fabricação de Componentes (carcaças, eixos, rolamentos) e Serviços (retrofit, manutenção especializada de motores). BNDES MPME Verde (Crédito simplificado com carência) e Vouchers Embrapii (Protótipos). “Vale do Magneto” (MG-SP-SC)
???? 2. Eletrônicos, Sensorias e Ópticos Produção de Sensores Miniaturizados, Atuadores e Montagem de Módulos de eletrônica fina e óptica. Lei da Informática 2.0 (Abatimento Fiscal por insumo nacional) e Editais Finep Startups. “Polo Sensorial Brasil” (São Carlos / Campinas / Recife)
???? 3. Química e Catalisadores Formulação de Catalisadores Sob Medida (pastas, suspensões) e Serviços de Regeneração química. Finep InovaNano (Financiamento 50/50) e Crédito Presumido de ICMS (Uso de TR nacional). “Polo Catalítico Nordeste” (BA–PE–CE)
???? 4. Saúde e Biotecnologia Startups de Radiofármacos e Contrastes (Gd) e Equipamentos de Imagem com componentes magnéticos. Edital MCTI-Saúde 4.0 (Subvenção Econômica) e Fast-track ANVISA para startups. **“Biomagnet

 

Para o capital externo e para o mercado financeiro (como investidor)

Instrumento Função Órgão Gestor
Golden Share Pública Veto estratégico em decisões de controle, exportação e transferência de tecnologia. BNDESPar / União
Fundo de Terras Raras do Brasil (FTR-BR) Investidor-âncora em JVs, mantendo 25–40% de equity nacional. BNDES + fundos de pensão
Cláusula de “compra local mínima” Exige que 60–70% dos insumos e subcomponentes venham do país. MDIC
Requisitos de Conteúdo Tecnológico Local (CTL) Percentual mínimo de engenharia e P&D feito no Brasil (ex. 30% do CAPEX em P&D local). MCTI
Banco de Patentes Compartilhadas (IP Commons BRICS) Centraliza e protege propriedade intelectual desenvolvida em parcerias. INPI + MCTI
Autoridade Nacional de Terras Raras (ANTR) Supervisiona contratos, licenças e exportações estratégicas. CNPE + Casa Civil
Zonas de Processamento Industrial Verde (ZPIV) Espaços onde capital estrangeiro entra com isenção fiscal, mas sob regras de reinvestimento e conteúdo local. MDIC + Estados


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