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Comunista ‘moderada’ e extremista de direita são favoritos para suceder Boric na presidência do Chile


Nome da esquerda, Jeannette Jara lidera com 33% das intenções de voto; rivais da direita têm 16%

Publicado: 14/11/2025

Material de campanha de Jeannette Jara - Foto: Marvin Recinos / AFP

Do Brasil de Fato

Os chilenos vão às urnas no próximo domingo (16) para votar no primeiro turno das eleições presidenciais que vão escolher o sucessor do presidente Gabriel Boric, de centro-esquerda. A comunista “moderada” Jeannette Jara lidera as pesquisas com 33,2% das intenções de voto, seguida por dois candidatos da extrema direita empatados 16, 8%, José Antonio Kast e Johannes Kaiser, segundo pesquisa Atlas/Intel divulgado em 31 de outubro.

Se nenhum nome conquistar 50% +1 voto, o segundo turno em 14 de dezembro definirá quem governará o Chile pelos próximos quatro anos a partir de 2026. “Esta eleição será o tira-teima entre a esquerda e a direita”, diz ao Brasil de Fato o analista José Maurício Domingues, do Instituto de Estudos Sociais e analista político da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), se referindo à disputa ideológica em vigor no país desde os grandes protestos de 2019, conhecidos como Estallido.

O Chile ainda vive consequências da revolta social de outubro daquele ano, que tomou as ruas e foi respondida com repressão estatal, com um saldo de 32 manifestantes mortos e 3,4 mil feridos. Exigindo reformas sociais em um primeiro momento, os protestos foram capitalizados pela direita chilena, que conseguiu capitalizar o sentimento de desconfiança e frustração, apresentando-se como defensora da ordem e da segurança.

A política chilena é marcada nesta década por uma preocupação em temas como segurança pública e migração, dificultando a implementação de reformas progressistas. O Chile tornou-se um destino importante para imigrantes, principalmente vindos da Venezuela, com a população estrangeira tendo dobrado em sete anos e chegado a 8,8% da população de 20 milhões de habitantes.

Segundo estimativas oficiais, cerca de 337 mil imigrantes vivem em situação irregular, a maioria tendo entrado pela fronteira norte com Bolívia e Peru, uma região para onde o governo de Boric enviou o Exército no início de 2022. O tema é central na campanha eleitoral, já que a maioria dos chilenos associa o aumento da criminalidade à imigração irregular e foi abordado pelos principais candidatos.

Quem é Jara

Jeannette Jara, que milita no Partido Comunista desde os 14 anos, lidera uma ampla aliança de centro-esquerda. Ela surgiu como opção presidencial depois que, como ministra do Trabalho do presidente Gabriel Boric, conseguiu reduzir a jornada semanal de 45 para 40 horas e liderou a reforma do sistema privado de pensões.

A candidata comunista, descrita como aberta ao diálogo, assumiu uma agenda contra o crime e de maiores controles migratórios, mais própria da direita. “O tema da segurança pública será prioritário desde o primeiro dia”, afirmou Jara na televisão, estratégia elogiada pelo analista da Uerj.

“Já passou da hora de a esquerda latino-americana entender que este é um tema que aflige a todos. Obviamente, embora trate dessa questão, as posições de Jara são muito diferentes das dos candidatos da direita”, afirma Domingues.

Nascida há 51 anos em El Cortijo, um bairro pobre do norte de Santiago, Jara estudou administração pública e direito, e foi líder estudantil. Na juventude teve diversos trabalhos, inclusive a colheita de frutas.

Embora se mantenha nas fileiras do Partido Comunista, faz parte de sua ala social-democrata, e discorda com seus dirigentes mais ortodoxos.

“O Chile é igual a uma família. Nem todos pensam igual, nem todos se amam igual, mas nem por isso deixa de ser família”, gosta de repetir.

Rivais da direita

Pesquisa Atlas/Intel de 1º de novembro indica que dois nomes da extrema direita empatam em segundo lugar, com 16% da preferência do eleitorado: José Antonio Kast (Partido Republicano) e Johannes Kaiser (Partido Nacional Libertário). Enquanto o primeiro já concorreu à presidência outras duas vezes e vem caindo nas pesquisas, o youtuber Kaiser vem subindo.

Kast é filho de um ex-soldado do Exército nazista e irmão de um ex-ministro de Pinochet. Ele fundou em 2019 seu partido (Republicano), no qual exerce forte controle sobre seus dirigentes. Tem como bandeiras principais o combate ao crime e aos imigrantes irregulares.

Admirador de Pinochet, nesta campanha evitou temas como rejeição ao aborto e casamento igualitário, se concentrando em defender o aumento do poder de fogo da polícia.

Já o Youtuber Johannes Kaiser é ainda mais extremista que Kast. Ironizando estupros e questionando o voto feminino, ele usa abotoaduras com o símbolo da Cruz de Ferro alemã – condecoração militar usada desde o século 19, mas associada a símbolos de ódio por alguns, devido ao seu uso durante o nazismo.

Defende endurecer bastante a segurança e a expulsão de imigrantes ilegais, propondo a transferência de estrangeiros em situação de irregularidade e com antecedentes criminais para a mega prisão de El Salvador que já abriga expulsos pelos Estados Unidos. Kaiser é ultraliberal na economia e conservador nos costumes.

Correndo por fora, outra candidata de direita, Evelyn Matthei, representando a classe política tradicional, com 13% das intenções de voto. Ela também defende uma política de linha dura contra a imigração ilegal.

O analista José Maurício Domingues diz que o crescimento internacional da extrema direita pode beneficiar o Youtuber. “Katz era o candidato da direita dura, porém ao menos aparentemente civilizada”, diz ele.

“Kaiser vem correndo pela extrema direita e pode, por parecer mais antissistema, ultrapassar seu concorrente nesse lado do campo. Essa é uma tendência global.”



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