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Crise desperta nação e soberania ganha força aglutinadora


A percepção de que estamos a um passo de comprometer o futuro do país enquanto Nação reacendeu a esperança de reação

Publicado: 06/10/2025

Do GGN
Por Luís Nassif


Um país só alcança pactos civilizatórios e projetos de desenvolvimento nos raros momentos em que o interesse coletivo se sobrepõe aos interesses individuais. São instantes mágicos, nos quais a sociedade se mobiliza em torno de um propósito comum.

Por exemplo, a redução de direitos trabalhistas pode beneficiar empresas individualmente. No entanto, ao precarizar o mercado de trabalho, compromete-se a dinâmica do consumo, estimula-se a informalidade e enfraquece-se o tecido social. Sem uma força organizada em defesa do bem comum, prevalecem os ganhos individuais, mesmo que à custa do conjunto.

A privatização da Eletrobras é outro exemplo. Beneficiou um grupo restrito de investidores que conseguiu articular a operação, mas prejudicou o país como um todo, ao comprometer a oferta, o custo e a estabilidade do setor energético. Faltou uma organização capaz de conter o avanço dos predadores financeiros e proteger o interesse nacional.

O Brasil atravessou duas décadas de desmonte institucional. Primeiro, quando forças de centro e centro-direita aderiram ao golpismo e à erosão das regras constitucionais. Desde o episódio do “mensalão”, a política se transformou numa guerra encarniçada, marcada por uma polarização estéril e empobrecedora. Depois, quando, no poder, a esquerda petista negligenciou os problemas reais da população e falhou na construção de um projeto de futuro.

O Poder da Narrativa

A ideia, a informação, a narrativa — como define Yuval Noah Harari — são os grandes fatores de união e mobilização. Por isso, é essencial a existência de um Plano de Metas, de um projeto de país, de um “New Deal” brasileiro, como vimos batendo há tempos. A narrativa desenha o futuro e serve como elemento aglutinador.

Durante esse período de conflito, perdeu-se a capacidade de construir esse desenho. A guerra intestina entre liberais e progressistas, que dominaram a política brasileira pós-Constituinte, gerou um vácuo institucional. O impeachment de Dilma Rousseff aprofundou esse vale-tudo, entregando o país às garras do Centrão.

A desinstitucionalização foi tão profunda que permitiu ao crime organizado ocupar espaços relevantes no Estado, na Câmara dos Deputados, na estrutura policial e até no mercado financeiro. A apropriação do orçamento público, a infiltração nas polícias militares e o uso da chantagem explícita tornaram-se práticas comuns. A ausência de consenso e de um projeto nacional impediu até mesmo ações efetivas contra a taxa Selic e a escassez de crédito, afetando desde grandes grupos empresariais até consumidores de baixa renda.

Mas uma Nação não pratica suicídio.

A Ameaça à Nação e o Despertar Civilizatório

Nos últimos tempos, uma conjugação de fatores trouxe de volta o grande fator aglutinador: a crise. A percepção de que estamos a um passo de comprometer o futuro do país enquanto Nação reacendeu a esperança de reação.

Entre os sinais que despertaram essa retomada estão:

  • A atuação da Polícia Federal contra o PCC e os esquemas de lavagem de dinheiro;
  • O julgamento dos conspiradores do 8 de janeiro;
  • As ameaças de Donald Trump e a resposta firme de Lula e do Supremo Tribunal Federal;
  • A tentativa do crime organizado de aprovar leis de blindagem para criminosos abrigados na Câmara, que motivou a volta às ruas dos setores civilizatórios;
  • A volta dos grandes da MPB, como estimuladores da luta pela democracia;
  • O discurso de Lula na ONU, reafirmando a liderança brasileira na defesa da democracia e do multilateralismo, especialmente em um momento em que o genocídio de Gaza acende alertas em todo mundo contra o avanço da barbárie.
  • A constatação, ainda que tardia, de que o bolsonarismo e suas vertentes estaduais representam uma ameaça real à democracia;

Ao mesmo tempo, abre-se um enorme horizonte com o potencial das terras raras e da energia verde. Esse conjunto de ameaças concretas ao conceito de Nação parece finalmente despertar centro, centro-direita e centro-esquerda para a importância da soberania e dos riscos que se avolumam contra o país.

Os Editorais do Estadão: Um Sinal de Mudança

Hoje, em meio à crise do modelo tradicional de imprensa, os editoriais do Estadão se destacam como uma das melhores coisas que aconteceram na mídia recentemente. Em contraste, observa-se uma perda de qualidade e imaginação nos editoriais da Folha de S. Paulo.

Sem abandonar o conservadorismo, o Estadão parece ter recuperado a vocação original dos Mesquita: a defesa do interesse nacional. Nos primórdios da República, mesmo sob o peso dos interesses agrários, havia a pretensão de construir uma Nação — o que levou, por exemplo, à criação da Universidade de São Paulo.

Esse novo espírito também parece ter influenciado o trio Horácio Lafer Piva, Pedro Passos e Pedro Wongtschowski — líderes industriais que, por muito tempo, estiveram imersos em um liberalismo de ideias fixas. Com o artigo “Precisamos proteger as eleições de 2026”, publicado em O Globo, eles retomam o compromisso com a sobrevivência da Nação, conclamando: “Daí decorre o desafio de todos os democratas do país de buscar eliminar, desde já, o risco de deslegitimação dos resultados da eleição de 2026”.

A Música como Fator de União

No ritmo atual, é possível que, logo mais, a grande celebração do pacto nacional se dê em torno de projetos claros de desenvolvimento econômico e social, com políticas voltadas ao aproveitamento das vantagens competitivas do Brasil. E, talvez, com a constatação maior: o grande fator de aglutinação nacional é a música popular brasileira — expressão viva da identidade, da diversidade e da alma do povo.


 



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