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SINDICATO DOS SERVIDORES PÚBLICOS FEDERAIS NO ESTADO DE PERNAMBUCO
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Publicado: 22/12/2025
Do Brasil de Fato
“Estou feliz com a nossa política externa. O Brasil virou personalidade mundial. O Brasil hoje é respeitado em todos os fóruns mundiais”, destacou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante coletiva com jornalistas, no dia 18 de dezembro. No balanço do ano, a política externa teve papel de destaque. O Brasil foi sede de importantes fóruns multilaterais, como a Cúpula do Brics e a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), tendo recebido delegações de alto nível de todas as partes do mundo.
Por outro lado, o presidente da República visitou pelo menos 20 países, e participou de uma série de reuniões multilaterais fora do Brasil, como o G7 no Canadá, o 20 na África do Sul, a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) e do Fórum Mundial da Alimentação na Itália, além do tradicional discurso de abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York.
Em meio a todos esses compromissos, o Brasil teve que lidar com a imposição de sobretaxas a seus produtos pelo governo de Donald Trump, numa tentativa de interferir nos assuntos políticos internos. A resposta brasileira ao tarifaço, considerada “cautelosa” pelos analistas, envolveu a intensificação da política de abertura de novos mercados aos produtos brasileiros, que segundo o governo, permitiu que o país enfrentasse a situação com relativa tranquilidade.
Fator Trump: o tarifaço bolsonarista
O principal desafio da política externa do Brasil em 2025 foi a aplicação de tarifas de 50% a produtos brasileiros pelo governo dos Estados Unidos. O anúncio foi feito em 9 de julho pelo presidente estadunidense, Donald Trump, em uma rede social.
No comunicado, Trump relaciona a aplicação da sobretaxa a produtos brasileiros a uma suposta “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que, naquele momento, era réu na ação penal que apurou a tentativa de golpe de Estado no Brasil. O estadunidense ainda criticava o sistema de justiça brasileiro e afirmava a relação entre os dois países era “injusta” e ameaçou dobrar a aposta caso houvesse algum tipo de reciprocidade tarifária por parte do governo do Brasil.
Em vídeo difundido nas redes sociais, o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) assumiu ter articulado com membros do Departamento de Estado a aplicação das tarifas aos produtos brasileiros, como forma de pressionar as autoridades do Brasil a não julgar o ex-mandatário.
Em ato contínuo, o governo dos Estados Unidos publicou uma ordem executiva formalizando a tarifa sobre o Brasil, no entanto, estabelecendo uma longa lista de quase 700 exceções. Ao mesmo tempo, o Brasil decide recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra o tarifaço.
Paralelamente à imposição das tarifas, o governo Trump decidiu, ainda em julho, pela aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes e sua esposa, como mais uma forma de pressionar o magistrado, relator da ação penal do golpe, a mudar o rumo do julgamento contra o ex-presidente Bolsonaro. A norma prevê uma série de sanções contra o sancionado, e foi criada para ser aplicada a supostos violadores de direitos humanos.
Em agosto, como forma de enfrentar a crise, o governo brasileiro anunciou o plano “Soberania Brasil”, liberando cerca de R$ 30 bilhões em crédito para exportadores afetados pelas sobretaxas.
Da química na ONU ao encontro na Malásia
Durante a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, Lula e Trump tiveram um rápido encontro, em que, segundo o presidente dos Estados Unidos, rolou uma “química” entre os dois. O gesto foi visto como uma sinalização de abertura para o início de um processo de negociações pelo reestabelecimento das relações entre os países.
Em 6 de outubro, ocorreu o primeiro contato direto oficial entre os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos, quando Trump telefonou para Lula. Na ocasião, o presidente brasileiro solicitou a retirada da sobretaxa de 40% imposta a produtos nacionais, além das sanções a autoridades, e sinalizou um possível encontro presencial entre os dois, durante viagem a Malásia, por ocasião da cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), para a qual ambos foram convidados.
Finalmente, no dia 26 de outubro, Trump e Lula se encontraram em Kuala Lampur (Malásia). A conversa durou cerca de 50 minutos, e o presidente brasileiro entregou ao homólogo um documento impresso com as informações precisas a respeito da relação comercial entre os Estados Unidos, solicitando, portanto, a suspensão das tarifas a produtos brasileiros.
“Fiz questão de dizer a ele que eram infundadas as informações de que os Estados Unidos tinham déficit comercial com o Brasil. Nós provamos que houve superávit de US$ 410 bilhões em 15 anos. Só no ano passado foram quase US$ 22 bilhões de superávit para os Estados Unidos. Em todo o G20 só há três países em que os Estados Unidos são superavitários: Brasil, Reino Unido e Austrália”, disse Lula à época.
Segundo o ministério de Relações Exteriores (MRE) do Brasil, Lula também falou com Trump sobre a aplicação da Lei Magnitsky a autoridades brasileiras, qualificando a medida como “injusta”, uma vez que “respeitou-se o devido processo legal e não houve nenhuma perseguição”.
O encontro entre os presidentes deu partida a uma série de outras conversas e negociações que passaram a ser operadas, no caso brasileiro, sob liderança do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do chanceler Mauro Vieira.
Em 20 de novembro, o governo dos Estados Unidos anunciou a retirada da tarifa extra que incidia sobre produtos brasileiros de forma retroativa a partir de 13 de novembro. A medida incluiu produtos como carnes, café, frutas, especiarias e até itens religiosos e minerais.
Em agradecimento à suspensão, Lula telefonou para Trump no dia 3 de dezembro, e lembrou ao presidente estadunidense que ainda faltava suspender as sanções contra autoridades brasileiras, o que foi feito em seguida, no dia 13 do mesmo mês, com o anúncio da retirada de Alexandre de Moraes e sua esposa da lista de sancionados pelo Lei Magnitsky.
A condução das negociações pelas autoridades brasileiras foi cautelosa, mas acertada, na avaliação do professor de Relações Internacionais, Bruno Huberman. “Acho que o corpo diplomático brasileiro conseguiu sempre colocar as demandas da devida forma, conduzir as negociações da devida forma, com rito correto. Eu acho que isso importou muito e isso foi bastante importante. E eu acho que o que foi muito importante também foi o posicionamento do presidente Lula e não baixar a guarda em nenhum momento a respeito das pressões feitas pelo presidente, pelo governo Donald Trump”, considera o professor.
Na mesma linha, o analista internacional Bruno Rocha Lima considera que a cautela do governo brasileiro também dialoga com a correlação de forças interna no Brasil.
“O país não escalou o tensionamento Estados Unidos, talvez até por identificar que no cenário interno a gente de fato não tem uma composição de elite dirigente, como, por exemplo, alto comando das Forças Armadas e frações de classe dominante que sejam sequer nacionalistas”, avalia.
Conflitos internacionais e multilateralismo
Em diversas intervenções ao longo de 2025, o presidente Lula condenou os conflitos armados e o aumento dos gastos militares, sobretudo das grandes potências, e defendeu o multilateralismo como mecanismo para a solução de contendas.
“Nós enfrentamos número inédito de conflitos desde a Segunda Guerra Mundial. A recente indecisão da Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte] alimenta a corrida armamentista. É mais fácil destinar 100% do PIB para gastos militares do que alocar os 0,7% prometidos para Assistência Oficial ao Desenvolvimento. Isso evidencia que os recursos para implementar a Agenda 2030 existem, mas não estão disponíveis por falta de prioridade política. É sempre mais fácil investir na guerra do que na paz”, afirmou o presidente Lula, durante a Cúpula dos Brics, no Rio de Janeiro, em julho.
Em reiteradas vezes, o mandatário brasileiro defendeu o fim da guerra na Ucrânia, e uma solução mediada pela Organização das Nações Unidas (ONU). “Vocês poderão perguntar: vocês discutiram a questão da guerra da Ucrânia? Discuti antes, durante e depois, porque dissemos ao presidente Putin aquilo que a gente vem dizendo desde que começou a guerra: a posição do Brasil é contra a ocupação territorial do outro país. O Brasil integra um grupo de países que, junto com a China, criou um grupo de amigos e eu disse ao presidente Putin que estamos dispostos a ajudar na negociação, desde que os dois países que se enfrentam queiram que a gente possa participar”, disse Lula durante visita a Moscou (Rússia), em maio deste ano.
“Fiz questão de vir aqui para dizer que o Brasil está defendendo o fortalecimento do multilateralismo. Não é possível que a gente não tenha aprendido uma lição com a importância do que foi o multilateralismo depois da Segunda Guerra”, argumentou o presidente na mesma ocasião.
O massacre do povo palestino também foi objeto de declarações fortes do presidente Lula. Em viagem à França, no mês de junho, portanto, antes do acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, ele declarou que o território palestino vivia um genocídio e defendeu a criação de um Estado palestino, citando a demarcação de fronteiras em 1967.
“O que está acontecendo em Gaza não é uma guerra, é um genocídio de um exército altamente preparado contra mulheres e crianças, é contra isso que a humanidade tem que se indignar”, declarou o presidente.
Posteriormente, em julho, o Brasil formalizou sua adesão à ação da África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ) por genocídio em Gaza, e decidiu se retirar da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto.
As relações entre o Brasil contra o regime israelense continuam em suspenso. Após o governo de Benjamin Netanyahu haver declarado o presidente Lula “persona non grata”, o governo brasileiro retirou seu embaixador de Tel Aviv e não admitiu, até o momento, as credenciais do novo representante diplomático no Brasil.
Em setembro, paralelamente à Assembleia Geral da ONU, o presidente participou, em Nova York, da Conferência Internacional para a Solução Pacífica da Questão Palestina e a Implementação da Solução de Dois Estados.
Huberman destaca as ações do governo brasileiro de relevância sobre a questão palestina, para além das declarações públicas.
“A medida institucional mais relevante foi a retirada do Brasil da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto, que é responsável direto pela manipulação da acusação de antissemitismo, da qual o próprio presidente Lula vinha sendo, vem sendo constantemente acusado. Então, essas questões são institucionalmente antes, embora tenham sido limitadas. Outra questão que eu acho bem relevante, acho que em termos materiais, é o congelamento das relações diplomáticas com Israel. Aparentemente parou de exportar petróleo para Israel, embora não tenha imposto embargo militar, e nem embargo econômico”, avalia.
Por outro, Huberman explica que, como não houve um embargo militar do Brasil à compra de armamento do regime israelense, os estados brasileiros, responsáveis constitucionalmente pela segurança pública, os governos estaduais seguiram comercializando armas com Israel.
“O governo federal poderia ter intervindo e, a baixo custo, mas não interveio. Eu acho que isso foi um problema. O embargo militar completo seria bem possível. Isso é o que a gente fez em relação à África do Sul, embargo militar e embargo energético, no governo Sarney, em 1985 [contra o governo do Apartheid]. Fazer o mesmo em relação a Israel seria algo importante em relação ao nosso histórico diplomático de respeito a direitos humanos”, destacou.
Outro ponto de forte atenção da diplomacia brasileira, sobretudo no segundo semestre de 2025, foi o envio de tropas dos Estados Unidos ao mar do Caribe, próximo à fronteira com a Venezuela. Sob alegação de combate ao narcotráfico, o presidente dos Estados Unidos tem autorizado bombardeios a barcos civis, tanto na região caribenha quanto no pacífico, e acusado o governo de Nicolás Maduro, sem apresentar provadas, de chefiar o negócio de drogas na região.
“O presidente Lula levantou o tema e disse que a América Latina e a América do Sul, onde estamos, é uma região de paz. E ele se prontificou a ser um contato, um interlocutor, como já foi no passado, com a Venezuela, para se buscar soluções que sejam mutuamente aceitáveis e corretas entre os dois países”, relatou o chanceler Mauro Vieira após o encontro.
Mais recentemente, Lula conversou com Maduro e Trump sobre a situação. O presidente relatou as conversas em coletiva de imprensa com jornalistas, na quinta-feira, 18 de dezembro. “Eu estou pensando: antes de chegar o Natal, eu possivelmente tenho que conversar com o presidente Trump outra vez, para saber o que é possível o Brasil contribuir para que a gente tenha um acordo diplomático e não uma guerra fratricida”, declarou o presidente.
“Falei para o Maduro que se ele quisesse que o Brasil ajudasse alguma coisa, ele tinha que dizer o que ele gostaria que a gente fizesse. E disse ao Trump: ‘Se você achar que o Brasil pode contribuir, nós teremos todo interesse de conversar com a Venezuela e conversar com vocês, conversar com outros países para que a gente evite um confronto armado aqui na América Latina e na nossa querida América do Sul’”, contou o presidente.
Apesar das declarações públicas do presidente, o Itamaraty não se pronunciou oficialmente sobre a situação na Venezuela. Para Bruno Huberman, diante da gravidade do problema, com reflexos importantes para o Brasil, o governo brasileiro deveria ter tido uma “posição mais” dura.
“Eu gostaria de ver o presidente Lula ter uma posição mais dura em relação a isso, porque eu acho que uma ação militar americana, como está se colocando, por exemplo, essa tomada do navio petroleiro já é um ato de hostilidade de alguma forma inédito, que eu acho que o país deveria, o Brasil deveria de alguma forma conseguir agir para conter de uma forma mais dura do meu ponto de vista”, avalia o professor.
Huberman destaca que a escalada militar dos Estados Unidos só pôde ser viabilizada a partir do abandono dos mecanismos de integração que foram construídos nas últimas décadas.
“Isso mostra um pouco a fraqueza do governo Lula e desse momento atual de reorganizar o Unasul [União das Nações Sul-americanas], de criar, recriar o Conselho de Defesa Sul-Americano, que foi uma conquista do primeiro governo dele, do segundo governo dele, mas enfim, um dos primeiros. Se a gente tivesse um Conselho de Defesa Sul-Americano, se a gente tivesse uma boa integração sul-americana, que era algo que foi sendo construído ali nos anos 2000, se a gente tivesse uma Irsa [Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana] que tivesse de fato construído uma infraestrutura, conexão e construído uma integração socioeconômica, política aqui no nosso subcontinente, esse tipo de intervenção americana seria muito mais improvável”, analisa o professor.
Abertura de mercados
Em linha com as questões geopolíticas que afetaram os planos econômicos do Brasil no exterior, o principal foco da diplomacia brasileira, não só em 2025, mas nos últimos três anos, tem sido a abertura de novos mercados, sobretudo aos produtos agrícolas.
No começo de dezembro, o Itamaraty comemorou a marca de 500 novos mercados abertos em 80 países desde o início do atual governo. Essa frente de atuação é coordenada pelo MRE, em conjunto com os ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Durante a cerimônia de inauguração da sede própria da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), em Brasília, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse que os novos mercados abertos têm potencial estimado de exportação superior a US$ 37,5 bilhões por ano. “Chegamos aos 500 novos mercados para os produtos brasileiros. Este marco representa mais de US$ 3,4 bilhões para as empresas brasileiras que estão exportando dentro dessa nova política do governo do presidente Lula”, afirmou.
O presidente Lula também é entusiasta da política ostensiva de abertura de mercados aos produtos brasileiros. “Com muito orgulho celebramos a história dos 508 novos mercados. E a gente pode muito mais. Para isso, precisamos ser humildes, trabalhar mais e melhorar os nossos produtos. E a verdade é que a gente não tem competidor. Não existe hoje ninguém capaz de competir com a fartura de possibilidades que nós temos”, declarou o presidente Lula no mesmo evento da Apex.
Para Rocha Lima, é uma estratégia acertada, que faz com que o impacto da guerra tarifária do governo de Donald Trump seja menor sobre a economia brasileira.
“O governo está indo super bem, assim, está indo muito bem, mas é muito bem. Você pega a agenda do ministro Carlos Fávaro, o Brasil abre um mercado internacional a cada duas semanas, ou seja, um mercado é você vender um produto para um país”, explica o analista. “Nessa agenda positiva, o país reforça aquilo que já tem, naquilo que já é bom, que é essa produção primária exportadora, e garante o que sobrou de indústria. A Embraer está indo muito bem de novo”, ressalta Rocha Lima.
Grandes eventos multilaterais no Brasil
O Brasil foi sede, em 2025, de encontros multilaterais da mais alta importância. O primeiro deles foi a 17ª Cúpula de Líderes do Brics, realizada em julho, no Rio de Janeiro, com foco na defesa do multilateralismo. O encontro contou com a presença de 11 chefes de Estado e governo.
Na declaração final, os membros do bloco propuseram reformas estruturais em organismos internacionais e denuncia práticas que aprofundam desigualdades globais, como as sanções unilaterais e a concentração de poder no sistema financeiro global. O texto também condena as guerras em curso, sobretudo o genocídio do povo palestino, e defende uma maior cooperação em matéria de saúde, agricultura, combate à fome, além da criação de um sistema financeiro alternativo na busca pela desdolarização das transações comerciais.
Mas o maior dos eventos aconteceu em plena floresta Amazônica, com a realização em Belém (PA), da 30ª Conferência do Clima da ONU (COP30), entre os dias 10 e 21 de novembro. O evento, que reuniu representantes de 195 países, terminou com a aprovação de um conjunto de medidas chamado de “Pacote de Belém”, que inclui 29 decisões focadas em tecnologia, adaptação e uma transição justa para energias limpas.
A conferência movimentou a capital paraense com a presença de 42.618 pessoas. Para garantir a estrutura de um evento desse porte, o governo brasileiro investiu cerca de R$ 787,2 milhões na organização.
Após uma série de questionamentos sobre as condições estruturais para a realização do evento na capital paraense, o presidente Lula comemorou o resultado e disse que parte das críticas são motivadas por preconceito. Estou muito satisfeito com o sucesso da COP em Belém. “Aqueles que imaginavam que Belém não estava preparada, que não ia dar certo, a COP foi um sucesso extraordinário e tenho certeza de que as pessoas que foram, que tiveram a oportunidade de conhecer a cidade, de conhecer a culinária de Belém, devem ter voltado maravilhados. Quem não fez isso, se arrependeu”, declarou.
Sobre esse aspecto, especialistas divergem. O analista internacional Bruno Rocha Lima acredita que a diplomacia brasileira conseguiu reafirmar o papel de liderança do Brasil no debate ambiental. “Acho que dentro das possibilidades e limitações da COP 30, com o esvaziamento dos Estados Unidos, e com uma Europa muito recalcitrante, o que saiu da COP 30 do Pará foi muito superior às três edições anteriores”, avalia.
“Eu acredito que foi um momento para a diplomacia brasileira, um momento ímpar, muito importante. A percepção popular conseguiu concretizar o Brasil na liderança que o país exerce, seja pela preservação dos biomas, seja pelo trabalho acumulado”, considera Rocha Lima.
Já o professor de Relações Internacionais, Bruno Huberman, destaca as contradições da governança brasileira sobre o tema.
“A COP esteve aquém do desejado pelo próprio Brasil, embora a diplomacia brasileira tenha feito um esforço muito grande, tentado ir além do que planejado. Mas a própria diplomacia reconheceu que não conseguiu conquistar, por exemplo, o plano que o Lula anunciou no começo para acabar com os combustíveis fósseis. Então eu acho é uma contradição do governo Lula planejar abrir estrada na Amazônia, abrir estrada de ferro para escoar a soja, extrair petróleo da Foz do Amazonas e, ao mesmo tempo, fazer uma COP”, destaca.
Em relação ao debate sobre a eliminação de combustíveis fósseis, o presidente da República considerou um avanço a discussão sobre o chamado “Mapa do Caminho”, que não prevê a eliminação dos combustíveis poluentes, mas estabelece um conjunto de estratégias a longo prazo para fazê-lo.
“Não somos loucos de achar que a gente pode prescindir do combustível fóssil hoje, amanhã. Mas o que a gente se dispôs foi a gente construir um mapa do caminho para provar que a gente pode chegar lá sem transtorno para ninguém. Eu não quero que a Arábia Saudita feche suas portas de petróleo e acabou e vai ficar vivendo do quê? Mas eu quero é que a Arábia Saudita utilize o potencial de petróleo que ela tem para que, com o dinheiro que ela ganha do petróleo, ela possa construir a transição energética, ajudando a produzir outro tipo de combustível nos países que precisam de recurso”, disse o presidente.
Durante a COP30, o Brasil lançou oficialmente o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, pela sigla em inglês), considero uma das principais iniciativas da presidência brasileira à frente da Conferência do Clima. Os primeiros aportes anunciados chegam aos US$ 5,5 bilhões de dólares, investidos por Brasil, Indonésia, Noruega e França.
“Nós conseguimos aprovar o Fundo de Florestas Tropicais para sempre, que parecia impossível, era uma coisa de sonho. E nós conseguimos aprovar com a Noruega abrindo o leilão, dando três bilhões de euros. E agora vai depender da nossa competência de captar mais, porque o Banco Mundial vai ser o gestor desse fundo. Então, foi um sucesso extraordinário”, celebrou Lula, em coletiva de imprensa com jornalistas em Brasília.
Rocha Lima considera a iniciativa do TFFF inovadora. “A busca era criar um mecanismo de financiamento que não fosse a fundo perdido, não fosse doação, fosse para movimentar financeiramente a economia verde ou preservação, crédito de carbono, isso se atingiu”, pontua.
Por outro lado, Huberman critica a lógica “neoliberal” de funcionamento do TFFF. “O TFFF foi uma adaptação neoliberal do país para oferecer lucro para rentistas para preservar o meio ambiente de países periféricos, ou seja, é o mínimo do mínimo. Eu não sou contra esse tipo de iniciativa, mas eu não acho que isso coloca o Brasil como liderança”, pondera Huberman, apontando ainda os potenciais desperdiçados pelo Brasil no enfrentamento às mudanças climáticas.
“A Petrobras poderia estar liderando um processo de transição energética muito mais robusto, de desenvolvimento de novas tecnologias. O Brasil poderia estar muito mais bem preparado para isso. Mostrando que é um país que está nesse percurso de uma forma evidente, não somente das negociações internacionais, mas que a sua matriz econômica, ou seja, o Brasil, que está num projeto de neodesenvolvimento, da nova indústria Brasil e assim por diante, podia estar priorizando esse seu processo de reindustrialização na economia verde. E eu não vejo isso ser uma prioridade muito grande do Brasil”, avalia.
Brasil recebe o mundo: visitas internacionais de chefes de Estado e governo
Além das dezenas de chefes de Estado e governo que estiveram no Brasil por ocasião dos encontros multilaterais que o país sediou, em 2025, o presidente Lula recebeu em Brasília outros líderes, com quem realizou reuniões bilaterais.
O primeiro líder estrangeiro a visitar o país neste ano foi o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, ainda em fevereiro. A visita foi parte de uma série de eventos da Cimeira Brasil-Portugal, encontro de alto nível que reúne líderes dos dois países para fortalecer a cooperação em áreas como defesa, segurança, justiça, ciência, meio ambiente, comércio, saúde e cultura.
Pelo menos três presidentes africanos estiveram em Brasília, reunidos com Lula, neste ano: os presidentes de Angola, João Lourenço, em maio, do Benin, Patrice Talon, em junho, e da Nigéria, Bola Tinubu, em agosto. “Nos últimos governos, o Brasil se distanciou da África. Duas das maiores economias da América Latina e da África devem ter um intercâmbio muito maior”, disse Lula em declaração da imprensa, durante a visita do homólogo angolano.
O sudeste asiático também esteve no foco de atenção das relações exteriores brasileiras. Em julho, no contexto da realização da cúpula do Brics, o presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi também estiveram em Brasília para se reunir com o presidente brasileiro.
Ao lado do indiano, Lula condenou as guerras em curso e disse não aceitar qualquer tipo de “intromissão” de Donald Trump no Brics. “Nós não aceitamos nenhuma reclamação contra a reunião do Brics. Por isso que nós não concordamos quando ontem o presidente dos Estados Unidos insinuou que vai taxar os países do Brics”, afirmou Lula. “Queremos dizer ao mundo que nós somos países soberanos. Não aceitamos intromissão de quem quer que seja nas nossas decisões soberanas”, completou.
Entre os latino-americanos, o primeiro a visitar o Brasil oficialmente foi o presidente do Chile, Gabriel Boric, em abril deste ano. Na ocasião, os presidentes se uniram para criticar a guerra comercial deflagrada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e defenderam uma maior integração como forma de blindar as economias da região.
“Eu acho que nós, presidentes de países da América do Sul, deveríamos compreender que, isolados, nós somos muito fracos”, disse Lula, argumentando que a maioria dos governos da região privilegiaram apenas parte das populações. “Depois de construir a riqueza norte-americana, agora aparece um presidente que trata os latino-americanos como inimigos”, criticou o petista, à época.
Em agosto, Lula recebeu em Brasília dois presidentes do campo da direita latino-americana: o equatoriano, Daniel Noboa, e o panamenho, José Raúl Mulino.
O mundo recebe o Brasil: viagens internacionais do presidente
Em 2025, o presidente Lula também realizou uma intensa agenda de viagens internacionais. A primeira delas foi a Montevidéu (Uruguai), para a posse do presidente Yamandú Orsi, em fevereiro. Na ocasião, Lula participou de um jantar na embaixada brasileira, que contou com a presença de Orsi e dos presidentes do Chile, Gabriel Boric, e da Colômbia, Gustavo Petro.
Uma segunda visita ao Uruguai ocorreu em maio, por ocasião do funeral do ex-presidente uruguaio e amigo de Lula, José Pepe Mujica. Lula estava em viagem à Ásia quando soube da notícia, e um dia depois já estava em Montevidéu para se despedir do companheiro.
“Em seus quase 90 anos de vida, Mujica combateu fervorosamente a ditadura que um dia existiu em seu país. Defendeu, como poucos, a democracia. E nunca deixou de militar pela justiça social e o fim de todas as desigualdades”, declarou Lula sobre a perda do amigo.
Em março, o presidente brasileiro fez um giro pela Ásia, com paradas em Tóquio (Japão) e em Hanói (Vietnã). No mês seguinte, Lula foi a Tegucigalpa (Honduras), onde participou da cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac). Ainda em abril, o presidente foi ao Vaticano, onde participou das homenagens póstumas ao falecido Papa Francisco.
No mês seguinte, em maio, o presidente viajou a Moscou (Rússia), a convite do presidente Vladimir Putin, para participar das celebrações dos 80 anos da vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. Na sequência, Lula seguiu para Pequim (China), onde se encontrou com o presidente Xi Jinping e participou da Cúpula entre China e países da Celac.
Em junho, Lula foi à França para uma visita oficial, onde se encontrou com o presidente Emmanuel Macron, em Paris, e participou do encerramento do Fórum de Economia e Finanças Azuis, em Mônaco, como parte da Terceira Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos. No mesmo mês, o presidente participou da reunião do G7, em Kananaskis, no Canadá.
No mês seguinte, o presidente viajou à Buenos Aires (Agentina) para a Cúpula do Mercosul, na qual o Brasil assumiu a presidência temporária do bloco. Na ocasião, Lula visitou a ex-presidenta argentina Cristina Fernández de Kirchner, que se encontra em prisão domiciliar. Ainda em julho, o presidente brasileiro viajou à Santiago (Chile), onde se reuniu com os homólogos Gabriel Boric, do Chile, Pedro Sánchez, primeiro-ministro espanhol, e Yamandú Orsi, do Uruguai, na conferência denominada “Democracia Sempre”.
Já em agosto, Lula participou em Bogotá (Colômbia) da 5ª Cúpula da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), reunindo os oito países amazônicos, sendo eles, além do Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela para alinhar estratégias para a COP 30 em Belém.
Em setembro, o presidente, como é tradição, foi o primeiro a discursar na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas em Nova York. E em outubro, Lula viajou à Itália para participar do Fórum Mundial de Alimentação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). Na ocasião, o presidente foi recebido pelo papa Leão 14, no Vaticano.
No mês seguinte, o presidente Lula fez uma nova viagem à Ásia. A primeira parada foi em Jacarta (Indonésia), para uma visita oficial de dois dias, e em seguida, em Kuala Lampur (Malásia), participou da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), e se encontrou com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Às vésperas da COP 30, o presidente ainda fez um “bate e volta” em Santa Marta (Colômbia), para participar da abertura da IV Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos e a União Europeia (Celac-UE). Após a conferência em Belém, ainda em novembro, Lula participou da Cúpula do G20 em Joanesburgo (África do Sul) e, em seguida, fez uma visita oficial a Maputo (Moçambique), fechando a agenda internacional do presidente.
Para 2026, Lula anunciou que fará uma única viagem internacional, onde visitará dois países, no mês de fevereiro: Coreia do Sul e Índia. Nesse último, está prevista a realização de um fórum empresarial, com representantes comerciais brasileiros e indianos, com o objetivo de ampliar o intercâmbio comercial entre os dois países.