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Empoderamento e afirmação da negritude em um país racista


O branqueamento da população negra brasileira foi uma política que atravessou séculos até que os próprios negros passaram a se questionar sobre a hegemonia do padrão de beleza eurocêntrico e afirmar a sua negritude

Publicado: 17/11/2021
Escrito por: Ascom Sindsep-PE


Homens, mulheres e crianças negras sofrem discriminação racial no Brasil desde que os primeiros navios negreiros começaram a chegar ao país. A cor de suas peles, suas feições e os cabelos não seguem o padrão eurocêntrico e, por isso, passaram a ser vistos, desde o período escravocrata, com repulsa por uma parcela da população branca. Casos de crianças sofrendo humilhações nas escolas e adultos alisando seus cabelos para adquirirem uma “boa aparência” e serem aceitos no mercado de trabalho sempre foram muito recorrentes.

O branqueamento da população negra brasileira foi uma política que atravessou séculos até que os próprios negros passaram a se questionar sobre a hegemonia do padrão de beleza eurocêntrico e afirmar a sua negritude.

A diretora do Sindsep-PE e empregada pública da Ebserh,  Gislaine Fernandes (foto),  chegou aos seus 35 anos de idade sem lembrar como era o seu cabelo natural. Por volta de 12 anos, morando em Salvador, Gislaine sofria discriminação na escola onde estudava por ter o cabelo crespo. “Naquela época, todas as adolescentes que conviviam comigo e tinham os cabelos crespos faziam alisamento. As amigas da minha mãe ficavam perguntando porque ela não dava um jeito em meu cabelo. Então eu comecei a me incomodar e pedi para a minha mãe alisar meu cabelo. Ela resistiu porque, na época, usavam um produto químico muito forte. Mas eu insisti e não teve outro jeito”, comentou.

A expressão “boa aparência” é usada, por muitas pessoas, para mascarar o preconceito que carrega. Em muitas ocasiões, essa expressão é utilizada para excluir as pessoas negras, afrodescentes e indígenas. O padrão de beleza e boa aparência seria o das mulheres e homens de pele clara, magros e de cabelos lisos. O racismo é tão danoso que impõe estigmas e as pessoas se sentem humilhadas.

Como milhares de outras crianças e adolescentes, Gislaine não se reconhecia como negra, mesmo tendo as características físicas da raça. Ela lembra, inclusive, que nunca foi vista como tal, por ser negra de pele clara. 

“Sempre diziam que eu era morena e eu sempre acreditei nisso. É engraçado que até hoje em dia, apesar de eu ter passado a afirmar a minha negritude, algumas pessoas ainda me questionam sobre minha raça. Mesmo eu dizendo que tenho traços negros, cabelos crespos e que minha mãe é negra, ainda insistem em afirmar que sou morena. Hoje eu entendo que essas atitudes são reflexos do racismo estrutural, que tenta deslegitimar a raça negra, usando outros termos para se referir à cor”, frisa.

Fernandes só passou a enxergar o racismo por trás da situação em que vivia, desde criança, depois de ingressar no curso de Serviço Social da UFPE: “Foi a partir do conhecimento vivenciado neste curso que comecei a questionar a situação em que me encontrava. Passei a compreender que a influência que tive para alisar meu cabelo estava pautada no racismo estrutural brasileiro”.

Aos 35 anos, ela resolveu se assumir como negra e a fazer a transição capilar. A sua atitude acabou inspirando a sua mãe. Hoje, as duas usam os cabelos naturais. 

Preconceito linguístico

Apesar de todas as tentativas de se minimizar o racismo no Brasil, por parte de historiadores e sociólogos brancos que escreveram a história do País, o preconceito de cor sempre foi imposto, naturalizado e reproduziu uma situação e discurso opressivo para a população negra. Mas de todos os vícios racistas existe um que os brasileiros e brasileiras se acostumaram a repetir sem se questionar.  São expressões corriqueiras que carregam, em sua origem, preconceitos enormes. 

A diretora do Sindsep e estudante de Serviço Social, Gislaine Fernandes, lembra que, antes de entender o racismo como algo intrínseco na cultura brasileira, usava expressões racistas. “Por desconhecimento e pelo senso comum, eu usava expressões como inveja branca, denegrir, ovelha negra da família e cabelo ruim sem me tocar que elas carregavam uma origem racista por trás”, comentou.
 

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