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Ideia fixa marca audiência pública sobre reforma administrativa


Debate convocado por GT que debate reforma administrativa em 'modo turbo' na Câmara expõe lado dos que defendem flexibilizações que, na prática, entregam os direitos da população à iniciativa privada. Nossa luta contra elitização do Estado continua

Publicado: 11/06/2025

Da Condsef/Fenadsef

A primeira audiência pública do Grupo de Trabalho da Reforma Administrativa realizada na Câmara dos Deputados escancarou o que a Condsef/Fenadsef vem denunciando desde o início do governo: a tentativa de impor, por dentro do Estado, uma lógica gerencial privatista travestida de “modernização”. Apesar das promessas de diálogo e da retórica de valorização do serviço público, o espaço de fala nesta primeira audiência foi inteiramente ocupado por organizações que representam uma visão tecnocrática e empresarial do Estado, todas financiadas por grandes fundações liberais, como a Fundação Lemann.

A Fundação Lemann, diga-se de passagem, possui uma agenda liberal e elitista que busca articular um modelo de gestão pública baseado na meritocracia, no desempenho individual e na racionalização empresarial do Estado. Seu investimento em bolsas para universidades de elite no exterior, a formação de lideranças com trânsito entre o setor público e privado e a defesa de modelos de contratação flexível e “parcerias” revelam um projeto que privilegia a tecnocracia e a concentração de poder decisório nas mãos de uma elite altamente escolarizada e afinada com os interesses do mercado. 

O “terceiro setor” apresentou um leque de propostas que reforçam uma agenda liberal centrada na eficientização empresarial da administração pública. Entre elas, a regulamentação da contratação temporária em nível nacional, a criação de mecanismos de avaliação de desempenho com possibilidade de desligamento de servidores, o fim da progressão e promoção automática nas carreiras e a vinculação do orçamento a indicadores de desempenho. 

Essas propostas, embora apresentadas como soluções técnicas e neutras, traduzem uma visão de mundo que pretende remodelar o Estado segundo os interesses do capital. Essa lógica desconsidera a natureza coletiva e social do trabalho público. Ao mesmo tempo, aprofunda desigualdades, favorece a elitização das carreiras, precariza os vínculos laborais e ameaça a estabilidade, essa sim, condição essencial para a autonomia técnica da administração pública.

O GT da Reforma Administrativa já sinalizou que não haverá tempo hábil para ouvir amplamente a sociedade. As audiências estão sendo feitas em ritmo acelerado e com reuniões privadas em ambientes como o Insper, espaço historicamente alinhado ao pensamento neoliberal. 

Enquanto isso, as entidades sindicais terão algum espaço em uma futura audiência pontual. Mais grave ainda: as propostas elaboradas pelas ONGs liberais já estão sendo entregues ao GT como minutas legislativas, antecipando uma captura técnica do processo legislativo por interesses privados.

A promessa de que a reforma administrativa “não vai atingir direitos” é frágil diante das propostas apresentadas. O risco não está apenas nos dispositivos legais, mas na cultura de gestão que essas mudanças institucionalizam: trabalho amparado por desempenho produtivista, perseguições disfarçadas de meritocracia, vínculos precários e um Estado pensado para atender ao mercado, não à cidadania. Além disso, a contratação amparada por “altas habilidades e competências”, que tende a impedir o acesso ao trabalho público aos 80% da população trabalhadora que não possui nível superior. 

A imposição de modelos baseados na lógica privada, a flexibilização de vínculos empregatícios e a dependência crescente de contratações temporárias comprometem a capacidade do Estado de oferecer serviços de qualidade. A obsessão pela “eficiência” é apenas uma tentativa grosseira de igualar o setor público ao privado, como se os dois obedecessem às mesmas finalidades. 

Diante desse cenário, nos resta reafirmar nossa defesa incondicional de um serviço público forte, estável, acessível e universal. Não se trata de negar a necessidade de aperfeiçoar o funcionamento da máquina pública, mas de lastrear esse projeto nas decisões políticas expressas pela população trabalhadora nas urnas, em evidências reais, na ampla valorização dos servidores e no compromisso de ampliar, e não restringir, os direitos da classe trabalhadora.

O Brasil precisa de uma reforma que enfrente os verdadeiros privilégios, ancorados em uma política fiscal e monetária que drena os recursos públicos para enriquecer rentistas e banqueiros. Mas essa não é, nem de longe, a proposta apresentada pelo “terceiro setor” liberal. O que se oferece à sociedade é uma tentativa de retrocesso revestida de tecnocracia, subordinada à lógica do capital, que tenta destruir o Estado por dentro, em nome de uma suposta “modernização” que só interessa ao andar de cima.



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