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Invasão dos EUA à Venezuela seria ‘desastrosa’ e fortaleceria Maduro, diz especialista em direito internacional


Paulo Casella diz que ofensiva militar seria 'contraproducente' e defende cooperação internacional no combate ao tráfico

Publicado: 28/10/2025
Escrito por: Brasil de Fato

O professor de direito internacional público Paulo Borba Casella afirmou, entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, que a ideia de uma invasão estadunidense à Venezuela é improvável e contraproducente. Segundo ele, além dos altos custos e do histórico de fracassos em intervenções como Vietnã, Iraque e Afeganistão, uma agressão externa tenderia a fortalecer o governo venezuelano e aumentar a repressão interna.

“O próprio [presidente venezuelano Nicolás] Maduro disse alguns dias atrás que intervenções militares no Vietnã, no Iraque, no Afeganistão foram desastrosas. A Venezuela é um país grande territorialmente, com dezenas de milhões de habitantes, é impossível que eles façam uma invasão. Se a intenção é derrubar Maduro, a agressão externa provavelmente aumenta a coesão em torno dele e aumenta também a repressão contra vozes dissidentes. Então, nesse quadro, me parece absolutamente inadequado e contraproducente”, disse.

 

Questionado sobre relatos de que os EUA poderiam forjar um ataque para justificar uma reação militar, denúncia feita pelo ministro das Relações Exteriores venezuelano, Casella disse que, mesmo que existisse tal planejamento, a exposição pública da hipótese já reduziria sua eficácia e que uma ocupação total continuaria proibitiva.

“Pode ser que tenha havido mesmo esse plano de uma simulação de um ataque venezuelano para justificar um ataque americano, mas se isso já foi levantado e aventado, descaracteriza a novidade. Se algo parecido acontecer, já se saberá que tem de procurar o dedo dos EUA nessa própria incursão contra os seus próprios conacionais”, apontou.

 

‘Política do absurdo’ de Trump

O professor também comentou o impacto político doméstico das manobras do governo do presidente estadunidense Donald Trump, apontando para a estratégia de manter “o absurdo” em foco como forma de atrair a mídia e consolidar apoio político. Segundo ele, Trump tem se sustentado por meio de discursos alarmistas e falsos, como a ideia de que cidades governadas por democratas seriam dominadas pelo crime, algo desmentido por estatísticas oficiais.

“Ele tem feito absurdos todos os dias e, com isso, se mantém no foco da mídia e provavelmente também no foco das conversas entre os próprios americanos. Só que tem havido muitos disparates, inclusive as medidas adotadas dentro dos Estados Unidos, dizendo que cidades importantes governadas por democratas são antros de crime e que a criminalidade está correndo solta, quando isso é negado pelas estatísticas que mostram queda de criminalidade”, relatou.

 

Sobre a conexão entre o tráfico de drogas e a política externa estadunidense, Casella concordou com a análise de que a grande procura interna por drogas nos EUA é parte central do problema e que apontar inimigos externos é uma manobra diversionista que não resolve a questão social de saúde pública.

“A sociedade americana está doente. Em vez de buscar educação, assistência social, atividades internas, faz essas manobras diversionistas de buscar um inimigo externo e jogar a força militar contra eles, o que é só uma encenação. Se há interesse em lutar contra o tráfico internacional de drogas, isso é importante e tem que ser feito, que seja feito de maneira legal, civilizada, com cooperação entre os governos, entre o Judiciário e a polícia dos diferentes países”, disse.

Alternativa democrática

Para Casella, medidas diplomáticas e de cooperação prática têm mais potencial de resultado do que a escalada militar. Ele citou iniciativas semelhantes às promovidas pelo Brasil recentemente, como o diálogo com o Equador e o reforço da cooperação entre judiciários e polícias, e avaliou que esses esforços podem produzir efeitos reais no combate ao crime organizado e ao tráfico de drogas.

“Pode fazer muito mais sentido e ter muito mais resultado o que o presidente Lula propôs, como o Brasil fez há alguns meses, quando foi recebido o presidente do Equador, [Daniel] Noboa, em Brasília. A pauta de combate ao crime organizado e tráfico de drogas também foi tratada. O encaminhamento que foi feito é aumentar a cooperação entre os judiciários e as polícias dos dois países e a abertura de um escritório da Polícia Federal brasileira na capital do Equador, Quito. Isso pode funcionar”, indicou.

 
 


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