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Planalto busca esfriar crise com Congresso após carta de Alcolumbre


Percepção é de que só uma conversa direta entre o presidente Lula e Davi Alcolumbre poderá retomar a boa relação

Publicado: 01/12/2025

Hugo Motta, Davi Alcolumbre e Lula - Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Do Brasil 247

O clima político em Brasília ganhou novos contornos após o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), elevar o tom contra o Palácio do Planalto em meio ao impasse sobre a indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal (STF). A tensão foi desencadeada por uma nota oficial em que o senador acusa integrantes do Executivo de tentar vincular dificuldades no Congresso à negociação de cargos.

Alcolumbre classificou como “interferência indevida” a atuação do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no processo de análise da indicação de Messias, atual advogado-geral da União. O presidente do Senado afirmou considerar ofensivas as insinuações de que divergências entre os Poderes seriam superadas com trocas de cargos e liberação de emendas, relata o jornal O Globo.

Pouco após a divulgação da nota, a ministra Gleisi Hoffmann (PT), da Secretaria de Relações Institucionais, usou as redes sociais para amenizar o cenário, ressaltando que o governo mantém “o mais alto respeito e reconhecimento” por Alcolumbre. Segundo aliados da ministra, a estratégia do Planalto é reduzir a temperatura das disputas com a cúpula do Legislativo.

A escolha de Messias, anunciada sem comunicação prévia ao presidente do Senado, ampliou o desgaste. O nome preferido de Alcolumbre — e de grande parte dos senadores — era o de Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Em sua manifestação pública, o senador foi direto: “É nítida a tentativa de setores do Executivo de criar a falsa impressão, perante a sociedade, de que divergências entre os Poderes são resolvidas por ajuste de interesse fisiológico, com cargos e emendas”.

Termômetro político desfavorável

No Palácio do Planalto, auxiliares de Lula reconhecem que Messias enfrenta dificuldades para conquistar os 41 votos necessários à aprovação. O cronograma definido por Alcolumbre prevê sabatina e votação em 10 de dezembro, mas integrantes do governo veem a data como pouco estratégica, já que o advogado-geral da União ainda não consolidou apoios.

O Planalto suspeita que a pressa no calendário possa funcionar como uma espécie de armadilha. Em paralelo, relatos indicam que uma das demandas ventiladas nos bastidores — e negada por aliados de Alcolumbre — seria a presidência do Banco do Brasil, cargo há muito ambicionado pelo senador. Mesmo assim, pessoas próximas ao presidente do Senado insistem que não há negociações por postos e que o processo segue o rito regular.

Em novo trecho da nota, Alcolumbre sustenta que há tentativa de “desmoralizá-lo” e critica a ausência do envio formal da mensagem presidencial ao Senado com a indicação de Messias. “Nenhum Poder deve se julgar acima do outro, e ninguém detém o monopólio da razão. Tampouco se pode permitir a tentativa de desmoralizar o outro para fins de autopromoção”, afirma.

Estratégias e mapas de insatisfação

A demora no envio da mensagem ao Senado não foi acidental, segundo interlocutores do governo. Para o Planalto, o adiamento pode dar tempo para ampliar o apoio a Messias e evitar uma derrota em plenário. A avaliação é que será necessário compreender com precisão o conjunto de insatisfações de Alcolumbre e senadores alinhados a ele — como Eduardo Braga (MDB-AM), Otto Alencar (PSD-BA), Omar Aziz (PSD-AM) e Renan Calheiros (MDB-AL).

Aliados de Lula afirmam que o descontentamento não se limita à preferência por Pacheco ou à falta de comunicação prévia. O Planalto enfrenta dificuldades na interlocução: Messias não teve seus contatos respondidos por Alcolumbre, e conversas diretas com o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), também não avançaram. Parte do diálogo tem sido conduzido por Randolfe Rodrigues (PT-AP) e Otto Alencar.

Uma solução definitiva, avaliam governistas, depende de uma conversa direta entre Lula e Alcolumbre — encontro ainda sem previsão. O momento e as condições desse diálogo são vistos como fundamentais para uma reaproximação efetiva.

Sabatina pode ficar para 2026

Presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Otto Alencar reconheceu que a escolha de Messias frustrou Alcolumbre. "A carta é uma resposta ao que tem saído na imprensa, que ele está impondo ao governo cargos, não é verdade, ele não pediu isso. Ele nunca solicitou nada. O que ele defendeu, como muitos, foi a possibilidade de a indicação ser do Pacheco e não deu certo. Ele realmente ficou um tanto quanto decepcionado (com o governo)", declarou o parlamentar.

Otto também admitiu que, diante da conjuntura e da falta do envio da mensagem presidencial, a sabatina pode ser empurrada para o próximo ano. "Não vejo problema em ficar (a sabatina) para o ano que vem. Não é uma urgência, não é fratura exposta. O André Mendonça (ministro indicado por Jair Bolsonaro ao STF) demorou quase cinco meses para ser sabatinado", afirmou.

A crise, embora ainda em curso, passa agora por um período de avaliação cuidadosa de danos e reconstrução de pontes entre os Poderes, em meio a uma das indicações mais sensíveis do governo ao Supremo.



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