SINDICATO DOS SERVIDORES PÚBLICOS FEDERAIS NO ESTADO DE PERNAMBUCO

(81) 3131.6350 - sindsep@sindsep-pe.com.br

Home | Notícias

Problema fiscal do Brasil não é gasto social, mas juros altos da dívida pública, diz economista


Para José Luis Oreiro, taxa Selic explica desequilíbrio fiscal e impede queda da inflação mesmo com melhora no déficit

Publicado: 01/10/2025

Do Brasil de Fato

O déficit primário das contas públicas brasileiras somou R$ 15,9 bilhões em agosto. Apesar do montante, trata-se do melhor resultado para o período desde 2021. Para José Luis Oreiro, professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB), o debate sobre ajuste fiscal no país ignora o peso dos juros da dívida pública.

“Quando se fala em déficit na grande imprensa, está se falando 99% das vezes do resultado primário, ou seja, é o déficit público antes do pagamento dos juros sobre a dívida pública”, explica, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato. Segundo Oreiro, a economia brasileira vem crescendo acima de 3% ao ano desde 2023, o que melhora a arrecadação e ajuda a reduzir o déficit primário.

No entanto, o especialista alerta que o fator central para o desequilíbrio fiscal está em outro ponto. “O conceito relevante, do ponto de vista da dinâmica da dívida pública, não é o resultado primário, é o resultado nominal, que inclui o pagamento de juros sobre a dívida pública. O que o governo está conseguindo obter em termos de redução do déficit primário está sendo jogado fora com o aumento da taxa Selic”, indica.

Ele calcula que “cada um ponto percentual de aumento da Selic aumenta o pagamento de juros em 12 meses em R$ 56 bilhões”. Em 2023, o Brasil pagou mais de R$ 800 bilhões em juros; neste ano, o valor deve chegar a R$ 1 trilhão. Para Oreiro, a política monetária é “estruturalmente equivocada” e mantém os juros em um patamar injustificável. “Agora temos uma taxa Selic de 15% ao ano, e a inflação esse ano vai ficar bem abaixo de 5%. Então você tem, grosso modo, um juro real de 10%. É muito alto”, critica.

Dívida pública e interesses

O professor também rebate críticas sobre o tamanho da dívida brasileira, que está em 75,5% do Produto Interno Bruto (PIB). “Países, em geral os desenvolvidos, têm dívidas muito maiores, às vezes até o dobro do seu PIB”, lembra. Ele aponta que a ênfase no ajuste fiscal sobre os gastos sociais tem base ideológica e também atende a interesses de grupos privilegiados.

“Esse R$ 1 trilhão que o governo gasta com o pagamento de juros é a renda de alguém. E a renda do pessoal extremamente rico no Brasil é muito bem representada no Congresso Nacional. Os financistas, os ricos, os economistas do mercado financeiro interditam o debate sobre juros no Brasil. E todo mundo que diz que o problema fiscal é por causa dos juros é rotulado de ‘porra louca’, populista, inconsequente”, lamenta.

Inflação, meta e juros

Sobre a inflação, o Boletim Focus do Banco Central (BC) projetou 4,8% para 2025. Mesmo abaixo de 5%, o índice segue acima do teto da meta, fixado em 4,5%. Oreiro responsabiliza o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pelas mudanças recentes no regime de metas.

“O primeiro [erro] foi ter reduzido a meta de inflação para 3%, e o segundo, pior do que o primeiro, foi ter mudado o regime de meta de inflação para contínuo. Essa mudança do regime de metas de inflação tem o CPF do Sr. Fernando Haddad escrito nela. Foi barbeiragem do ministro da Fazenda”, avalia.

Para o economista, a alteração permite que o BC justifique a manutenção da Selic em 15% ao longo de 2025.

Desemprego e qualidade do trabalho

Já a taxa de desemprego chegou a 5,6% em agosto, um dos menores índices já registrados. Apesar disso, Oreiro alerta que não se pode falar em pleno emprego. “Do ponto de vista estritamente técnico, a série da taxa de desemprego depois de 2012 não é comparável à série antes de 2012. Dizer que a economia está em pleno emprego é metodologicamente incorreto e acaba justificando a manutenção dos juros altos por um período maior de tempo”, aponta.

Ele ressalta que quase 40% da força de trabalho está na informalidade ou subempregada. “Embora a situação do mercado de trabalho esteja visivelmente melhor do que estava no governo [do ex-presidente Jair] Bolsonaro, isso não há nenhuma dúvida, dizer que a economia está em pleno emprego é incorreto e acaba sendo um expediente de retórica”, diz.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira: a primeira às 9h e a segunda às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.



« Voltar


Receba Nosso Informativo

X