Este website utiliza cookies
Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência, otimizar as funcionalidades do site e obter estatísticas de visita. Saiba mais
SINDICATO DOS SERVIDORES PÚBLICOS FEDERAIS NO ESTADO DE PERNAMBUCO
(81) 3131.6350 - sindsep@sindsep-pe.com.br
Para Carlos Fico, o país tem um problema estrutural que não se resolve com “arranjos políticos”. Com apoio de Renato Janine Ribeiro, ele defende nova redação para o artigo 142 da Constituição
Publicado: 03/04/2024
Escrito por: Rede Brasil Atual
São Paulo – Em debate promovido pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) sobre os 60 anos do golpe, a permanente presença militar foi um das principais questões abordadas. Prestes a publicar livro que se chamará Utopia autoritária brasileira, o professor e pesquisador Carlos Fico destacou esse que chamou de “problema estrutural” do país, que muitos imaginavam, de forma equivocada, que seria resolvido com a redemocratização, a partir de 1985.
Fico lembrou, no início da exposição, que muitos apoiaram o golpe na expectativa de uma intervenção militar “breve”. Tanto que, a princípio, a eleição presidencial de 1965 foi mantida. Mas não houve eleição, nem o poder voltou para os civis. E muitos apoiadores se tornaram opositores. O pesquisador cita, inclusive, entidades como ABI, CNBB e OAB. Com isso, ele busca diferenciar o golpe em si da ditadura que veio em seguida.
Dessa forma, ao mesmo tempo em que observa não haver “fato novo” na historiografia de 1964, Fico lembra que o Brasil tem um “problema estrutural” que arranjos políticos não irão resolver. É justamente a persistência do intervencionismo militar. Ele observa que as Forças Armadas são necessárias e têm papel histórico importante, como ocorreu na 2ª Guerra, com a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Mas, ao mesmo tempo, as FAs têm ainda se consideram ter um papel de intervenção. E ainda entra o famoso artigo 142 da Constituição.
“Todas as crises institucionais brasileiras, desde a Proclamação da República até ontem (referência a 8 de janeiro de 2023), foram causadas por militares”, afirma o pesquisador. “E todas as intervenções militares se deram a partir de certos padrões recorrentes.” Um desses padrões, acrescenta, é a visão de que as Forças Armadas têm certa “licença” para intervir, com base na atual e em Constituições anteriores.
“O artigo 142 não permite intervenção militar. Eu sei disso, o ministro Fux, o ministro Dino…”, diz Fico, defendendo uma revisão do texto constitucional. Moderador do debate, o presidente da SBPC, o ex-ministro Renato Janine Ribeiro, manifestou apoio à ideia. Na última segunda-feira (1º), o Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria contra esse visão de “intervencionismo” ou de “poder moderador” que alguns ainda insistem em atribuir às Forças Armadas.
Janine também destacou a falta de memória em relação aos acontecimentos da história brasileira. “Infelizmente, as marcas da barbárie continuam vivas. (…) O fato de não ter sido feito um ajuste de contas, um trabalho de memória criterioso, rigoroso, permitiu que ressurgisse a ameaça da tirania, da ditadura.”
A jornalista e tradutora Rosa Freire d´Aguiar comentou sobre as perseguições “mesquinhas, arbitrárias”, sofridas pelos exilados. A tal ponto que, em determinado momento, a representação diplomática brasileira avisou que só seria possível obter ou renovar passaporte mediante recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF). Foi o que aconteceu, por exemplo, com Magdalena Arraes, mulher de Miguel Arraes, que só conseguiu renovar seu passaporte ao obter mandado de segurança.
Isso aconteceu também com o economista Celso Furtado, com quem Rosa se casou. O ex-presidente da Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) estava longe de ser ligado a um partido extremista, e ainda mais da luta armada, mas mesmo assim tinha seguidos problemas para obter documentos. Rosa contou que os exilados usavam a expressão “ficaporte”: um passaporte que não permitia ir a lugar nenhum.
Confira abaixo a íntegra do debate promovido pela SBPC, realizado na segunda-feira (1º), na data de 60 anos do golpe. Também participaram a professora Helena Serra Azul Monteiro (Universidade Federal do Ceará) e o jornalista Cid Benjamin.